Desde 01 de Março de 2022

A poesia

Vânia Moreira Diniz A poesia

O tempo caminhou. Não mais aquele sonho, mas a presença da alegria e do encanto especialmente inspirador. Tudo parecia um conto de fadas quando a menina começou a crescer. E quanto mais crescia a presença da realidade não caminhava no mesmo ritmo. Ela tinha a sensação de que vivia momentos intercalados, muito intensos e inexoravelmente irreais. Não sabia precisar onde estava, porque viera para esse mundo e as razões. Mas amava explorar com olhos brilhantes a perseverante natureza, bela e aconchegante como se ali fosse uma casa ofertada por um Deus indefinido.

Os dias corriam, a passagem era por vezes áspera, porém havia debaixo dos grilhões que machucavam seus pés, uma maciez protetora e amena que a fazia andar mais célere em direção à sua meta.

Tudo era tão subjetivo que não sabia se vivia, cumpria uma finalidade ou deixava-se arrastar dolentemente. Até que encontrou sua própria alma e pode captar o sentido do que antes não soubera compreender: A poesia. Ela ali estava iluminando seus dias, esquivando o mal, e completando o sentido de uma existência, bem como dos voos quase literais em busca de realização. A poesia sublimava quaisquer momentos difíceis ou ásperos ou irônicos e cicatrizava as feridas que às vezes teimavam em reabrir.

A poesia permitia suas buscas, perdoava suas imperfeições e reestruturava o sentido da vida afastando as dúvidas e erguendo-a nas eventuais quedas dolorosas. Só ela conseguia elevá-la na frágil dignidade humana e nos fracassos inconsequentes.

Sempre convivera e tivera como companheira a poesia, só que naquele momento tinha a consciência iluminada da fortaleza terna, do vigor que nascera e ia um dia morrer com ela.

Por causa dela estava ali, com os olhos de frente para o sol, em convivência com a luz das estrelas, sabendo definir a cor do céu e pairar entre nuvens brancas e macias. E por causa dela se aninhava no solo verde de capim macio, admirando como irmãs as flores que lhe comunicavam segredos, as folhas que lhe davam esperanças, os lagos e rios que lavavam seus machucados na água corrente e o mar gigante e esplendoroso captando cada momento e transmitindo o eco de sua voz majestosa num murmúrio sedutor.

A poesia expressava também sua harmonia no canto dos pássaros que lhe faziam bem e na musicalidade das notas rítmicas que lhe acalmavam. E representava o seu universo total tanto físico como anímico.

Assim ela cresceu, tornou-se mulher, compartilhou das sensações as mais estranhas e profundas, amadureceu e se envolveu para sempre na poesia que jamais a deixaria cair inerte nem permitiria que ela não atingisse o sonho maior e mais profundo.

Esse sonho que era compartilhado envolto na inspiração que não a deixaria fenecer, mas ao contrário lhe daria as mãos constantemente e se misturaria aos anseios de seu coração.

A Poesia, companheira, irmã, reflexo de sua alma e que não a deixaria morrer jamais.

Vânia Moreira Diniz

Compartilhar Artigo:

Facebook
Twitter
Pinterest
LinkedIn

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

RELACIONADOS

Você também pode gostar

Escritora Vânia Moreira Diniz

Um banco de praça

Hoje em minha caminhada tive oportunidade de fazer algo que há muito tempo não tinha oportunidade. Quando caminho, deixo meus pensamentos soltos, mas procuro observar

Prosa poética Vânia Moreira Diniz

Realização na solidão

Vivi sempre com muito barulho. Fui criada no asfalto, em meio a carros velozes, caminhões fumacentos, buzinas estridentes, gritos alarmantes, pessoas discutindo em plena rua,

Vânia Moreira Diniz - escritora

Quem era eu?

Esse fim de semana tive a impressão de que estava em outro mundo. Tanta coisa acontecera, que quando pude pensar mais profundamente um entorpecimento me

plugins premium WordPress