Era como se eu estivesse emergindo de um sono profundo, um estado de letargia onde a percepção do mundo se esvaíra. Mas, de repente, meus olhos se abriram, e a realidade se revelou em toda a sua magnificência. Através da janela do escritório, o céu noturno era um espetáculo de azul profundo salpicado de estrelas brilhantes. As nuvens, alvas e espumosas como ondas, dançavam em câmera lenta, e a brisa suave trazia consigo o perfume da terra úmida.
Naquele momento, tive a certeza de que o mundo existia, pulsava com vida, e eu, de alguma forma, havia retornado a ele. Busquei no céu minha estrela predileta, aquela que sempre me fascinou com seu brilho intenso e constante.
Ali, sozinha em meu escritório, conversei com as estrelas, orando com uma fé renovada. Como o tempo havia passado sem que eu notasse a beleza que me cercava! Em que canto da casa eu havia adormecido? E por quanto tempo? Sequer sabia dizer se estava realmente acordada ou se ainda vivia um sonho.
Abrindo os olhos, me vi deitada junto ao meu sofá favorito, um raio de sol acariciando meu rosto. Por um instante, fiquei atônita, sem entender. Mas então, reconheci aquele calor acolhedor, aquela luz dourada que sempre me acompanhou. Era o sol, meu velho amigo, me saudando após uma misteriosa ausência. Como pude esquecê-lo, ele que sempre fez parte da minha vida, aquecendo meus dias e iluminando meus caminhos?
De repente, o telefone tocou, trazendo-me de volta à realidade. Era uma amiga querida, e sua voz, carregada de preocupação, me perguntou: “Está melhor?”.
Respondi, com a serenidade que me inundava: Melhor? Nunca estive tão bem em minha vida!
Houve um silêncio do outro lado da linha, e então ela exclamou, com uma mistura de espanto e alegria: “Você sempre me surpreende! Graças a Deus retornou! Mas diga-me, como aconteceu esse retorno? Como reconheceu a vida?”.
Eu não reconheci a vida, respondi, sentindo a força daquelas palavras. A vida me reconheceu, com a fé de uma energia poderosa e amiga.
Vânia Moreira Diniz
Conteúdo atualizado pela equipe Essenciar