Desde 01 de Março de 2022

Editorial Agosto: Nossos Pares / Grito de Alerta

Vânia Moreira Diniz editorial

Creio que o amor e solidariedade é algo amplo alcançando todas as pessoas, mesmo aquelas que estão ao nosso lado e me entristeci ao ir verificando aos poucos que talvez não tenhamos dado atenção e estímulo a muitos colegas escritores cheios de talento. Fomos longe em nossas elucubrações e não vimos aquele que estava ao nosso lado.

Tenho percebido que muitos excelentes poetas e escritores saíram do nosso convívio. E desistiram de escrever. Creio que devem estar escrevendo para si mesmos na tentativa de realizarem algo que é importante para eles, para seus corações como uma necessidade premente. Recordo-me que fiz uma divulgação para alguém que tinha acabado de escrever um livro e tempos depois perguntei-lhe como tinha sido a experiência. Simplesmente respondeu-me:

– Resolvi parar. Estava me desgastando e esperançoso, achando que me realizaria e de repente percebi que não valia a pena. Neste país, Vânia o escritor só consegue algo com cacife a ajuda maciça da mídia. Vou seguir e esquecer que publiquei um livro.

É claro que não vou dar os nomes dessas pessoas para respeitar a privacidade de cada um, mas de repente me toquei que talvez eu mesma fosse um pouco culpada. Faço um trabalho de divulgação que é importante para o meu coração porque nada é mais enriquecedor do que vê um autor desconhecido até da internet ir alçando vôo sentir o quanto são importantes as palavras que transmite e chegar ao ápice de sua vida literária. Para mim sentir que o ideal das pessoas está se concretizando é uma sensação indescritível.

E repentinamente penso que talvez não tenha feito o suficiente, tenha talvez me distraído num momento importante que alguém precisava de apoio e atenção. Acho que está acontecendo isso entre os escritores.

A falta de atenção, carinho preocupação com o outro quando apenas olhamos para nossos próprios escritos, a displicência com que nos grupos, sites, jornais e revistas eletrônicos não nos preocupamos de perguntar por um participante ausente e abrir os braços acolhedoramente ou talvez a concentração apenas nas pessoas que aparecem, olvidando completamente de procurar o outro tão perto de nós é imperdoável.

Falamos de assuntos necessários, de pessoas que também precisam de nosso apoio e esquecemos justamente nossos pares, colegas que lutam ao nosso lado pelo mesmo ideal e que se dedicam com o mesmo afinco.

Notei que muitos deles sumiram da internet, não estão escrevendo pelo menos publicamente e procurei-os. Alguns ainda não consegui encontrar e outros pude travar um diálogo e percebi como estão realmente desiludidos. Além disso eles significavam mais vozes, mais palavras para tentarmos lutar contra os dissabores sociais, a violência, a exclusão e trazer o lirismo aos dias conturbados de hoje.

Questionei a mim mesma culpando-me por não ter dado um sorriso na hora exata (claro que o sorriso seria palavras mais empolgantes, pois não poderiam me ver) o abraço carinhoso de nosso entusiasmo ou uma divulgação mais persistente.

Muitos desse poetas e escritores que desistiram fizeram um bonito trabalho, digno de louvor, mas talvez estivéssemos demasiados absorvidos com nossos afazeres ou com os que se manifestavam mais abertamente.

Não me conformo, porém. Peço a esses profissionais das letras que não abandonem seus escritos e a literatura e que seu trabalho é primordial para compormos uma frente a favor de um universo capaz de sentir-se feliz abrigando todas as pessoas que fazem parte dele. E quanto mais nos unirmos mais fácil atingiremos nossos objetivos.

Venham, não desejamos ser paternalistas apenas dizer o quanto é importante a participação de todos que receberam o dom de transmitir e sonharam com o que sonhamos. Não desistam de seus sonhos nem se sintam relegados. Culpados somos nós, culpada sou eu por não ter prestado atenção suficiente em nossos pares que estavam se afastando e não ter dado um sinal de que necessitávamos de seu trabalho continuado.
Venham! Estamos esperando! Não poderemos jamais ser felizes sozinhos.

Vânia Moreira Diniz

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