Eu o conheci como psiquiatra, indicado por um médico amigo da minha família e que me vira nascer e crescer. Estava num período de tensões e Dr Odilon achou melhor que eu fizesse uma terapia mais consistente.
Dr Manoel era psicólogo e psiquiatra e quando nos conhecemos em seu consultório ficamos parados, um olhando para o outro, sem conseguirmos pronunciar uma palavra. Ele abrira a porta onde eu conversava com a recepcionista e a moça ficou sem jeito até para falar. Nunca havia visto um homem mais bonito do que aquele médico, colega de meu pai e de meu tio Odilon. Devia ter mais de 1,90 de altura, tinha o corpo musculoso e imponente e seu rosto era impressionantemente lindo. Parecia ter mais que o dobro da minha idade.
Finalmente pediu-me que entrasse e ficamos conversando, já iniciando o tratamento. Mas havia um clima estranho que eu não soube no momento identificar. Quando o conheci eu só tinha quinze anos,
À medida que o tempo passava via, que não conseguia pensar em outra coisa a não ser naquele homem tão incrivelmente belo, (pelo menos na ocasião eu assim pensava) e que parecia também muitíssimo impressionado por mim.
Para ser sincera foi a primeira vez que senti aquela ansiedade gostosa, excitante e ao mesmo tempo angustiada que me deixava aturdida e alheia. Tinha sentido atração por muitos rapazes, mas eram momentos passageiros.
Um dia recebi um recado do médico pedindo-me que chegasse meia hora antes da consulta, pois ele precisava conversar comigo. Meu coração bateu com intensidade sentindo todas aquelas reações de uma paixão. Eu tinha o dia inteiro para trabalhar e ainda pretendia estudar para uma prova. Mas consegui ultrapassar o dia beneficamente.
Quando cheguei ao seu consultório, ele já me esperava e quando o vi tive certeza absoluta que era muito forte aquela sensação que me arrebatava. Pude entender que ele sentia exatamente o que eu sentia. Seu rosto estava conturbado e os olhos imensos e negros me fixavam de uma forma estranha. Custou muito a falar e eu suspensa às palavras que seu lábios pronunciariam.
Entrei em expectativa e ele então me disse.
-Eu chamei você porque preciso dizer algo muito importante. Não posso continuar a fazer sua terapia mas tenho uma pessoa para lhe indicar
-Por que? Fiz alguma coisa ou…
-Espero que tenha feito, mas não tenho certeza- e seu sorriso estava triste. Não posso continuar por motivos éticos. Eu me apaixonei por você e o tratamento mesmo que não haja correspondência não poderia ser eficaz. Não me pergunte como aconteceu mas estou completamente louco. Meus conceitos éticos mandam que eu interrompa a ligação como seu psicólogo.
Sua voz estava completamente trêmula e eu me perguntava como com o seu autocontrole, acontecera aquilo.
Enquanto ele falava uma alegria imensa tomou conta de mim e finalmente o Dr Manoel perguntou ansioso.
-Apesar da diferença de idade e outras circunstâncias gostaria de lhe fazer uma pergunta. Sente alguma coisa por mim?
Eu sabia existir um mundo que nos separava e fatos que podiam dificultar qualquer iniciativa, mas ao final desse tempo consegui ser absolutamente sincera:
-Sim, estou apaixonada por você. E acho que até minha liberdade como cliente facilitou a confissão.
Sua alegria foi bem visível e o movimento que fez em minha direção foi clara e impulsivamente desnorteada, mas se conteve a tempo para depois perguntar:
-Podemos nos encontrar hoje?
Não só nos encontramos, como vivemos um tórrido, e intenso caso de amor, interrompido por circunstâncias difíceis. Jamais esquecerei o dia em que lhe pedi que se afastasse de mim. Mas isso é outra história.
Vânia Moreira Diniz
Conteúdo atualizado pela equipe Essenciar