Desde 01 de Março de 2022

Editorial de Setembro

Vânia Moreira Diniz

Uma das principais ocorrências que me impressionaram na vida desde muito pequena foi a sensação (não apenas sensação) que as pessoas sentem diante de um fato devastador como o próprio sofrimento e também e talvez principalmente daqueles a quem amamos.

A primeira vez que senti isso era muita criança e não sabia definir exatamente suas conseqüências em minha alma. A reação foi uma angústia tão grande que eu não conhecia nem sabia explicar. Uma dor que tomava conta de mim e que eu sabia estar por dentro.

Muitas vezes aconteceria isso de uma forma profunda, inusitada e que embora já tivesse passado a conhecer me surpreendia. A certeza de que via alguém sofrer e não podia dar um passo em sua defesa além do consolo que conforta, mas não soluciona. E essa impotência em minha maneira de pensar levava-nos ao desespero. Lenta, mas progressivamente.

Acredito sinceramente em Deus e toda a sua magnitude, mas nesses momentos sinto-me tendente a questionar-me profundamente à procura de uma explicação que seja pelo menos plausível. Imagino a bondade infinita do Criador e mil vezes formulo a mesma e incompreensível pergunta: Por quê? Por que ocorrem nesse planeta fenômenos tão estranhos como o sofrimento que nossa percepção não atinge e conclui muitas vezes na morte sem solução? Por que não pudemos ajudar o nosso próximo? Por que essa impotência incompreensível e terrível que domina as pessoas como um enorme dragão cujas armas não podemos refrear?

Inúmeras vezes essa pergunta perturbou-me, levando-me a pensamentos inverossímeis e terrivelmente desanimadores. Em diversas ocasiões presenciei ou tive conhecimento de dores cuja solução nada poderia definir e me perguntava dentro do mistério insondável de um pai-criador de que forma poderíamos rezar. E de que forma continuaríamos a sentir a mesma inquebrantável fé.

Sei que os desígnios de Deus estão além de nossa humilde compreensão, porém isso não quer dizer que a angústia não se faça presente e dolorosa. Aprendemos que o Deus é amor, generosidade, compreensão, magnitude, senhor absoluto do perdão em todas as suas proporções. E no arrefecido entendimento de nossas mentes não conseguimos uma resposta coerente e de certa forma satisfatória para que possamos acalmar a ânsia de ter e presenciar sofrimentos os mais diversos.

É certo que a beleza do universo, suas manifestações, as alegrias que também tomam conta de todos nós e que são profundas e maravilhosas também nos reportam a Deus. E fico fascinada por esse mistério sedutor da beleza de cada manifestação de energia que igualmente não compreendemos, mas que, nos transborda de surpresas.

A vida é em si surpreendente e extraordinariamente emocionante e nos extasia pela vibração de cada momento, do sentimento em si, do riso contagiante, das lágrimas de alívio, do amor efervescente e da paixão em todas as suas proporções. Essa química espetacular aliada ao sentimento e restaurada nas manifestações as mais diversas instintivas e profundas.

Mas o que me ressinto de uma maneira mais profunda é sem dúvida a impotência de situações que nos deixam amargurados em seu contexto. Ficar inútil diante de dores e aflições. A impotência é descritível? Ela pode ser compreendida e analisada?

Ou nos leva a um precipício de conjecturas difíceis de retornar tal a sua complexidade que é quase impossível emergir? É essa a pergunta que me faço anos seguidos e que transmito a todos. Entretanto, sei que só continuaremos a conviver com tudo isso se reiterarmos e frutificarmos nossa fé. E talvez eu esteja precisando exercitar esse crédito. Exercendo-o, creio que chegarei de leve aos meandros complicados de decisões divinas necessárias tentando compreendê-las e poderei administrar a impotência dolorosa diante de uma evidência a qual não podemos evitar.

Vânia Moreira Diniz

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