Hoje, celebro o aniversário do meu nascimento, que ocorreu há bastante tempo. Recordo-me apenas de ter cabelos negros e olhos verdes. A imagem da minha infância é construída a partir de fotos antigas na casa dos meus avós. Descobri, em meio a essas lembranças, um irmão nascido antes de mim. Minha mãe costumava contar que eu relutei em nascer, agarrando-me ao conforto do seu ventre. Talvez pressentisse a poesia que me aguardava. Ninguém conhece os mistérios daqueles meses de proteção, mas minha mãe sempre afirmou que, entre oito irmãos, eu era a mais forte, resistente a doenças e sempre pronta para brincar de professora, patinar e improvisar teatros em casa.
Ah, e como eu amava o Carnaval! Decorava todas as músicas e, na adolescência, frequentava os bailes infantis e juvenis, e até os de adultos, acompanhada dos meus pais. A paixão pela poesia era compulsiva. Decorava versos dos clássicos e promovia saraus nas festas de família, “convocando” meus tímidos irmãos a serem minha plateia.
O Lido, em Copacabana, reduto de artistas, era outro dos meus lugares favoritos. Sei que dei trabalho aos meus pais, mas também preenchi minhas férias e feriados com a alegria dos passeios na companhia dos meus avós. Em meio à agitação da casa, com tantos irmãos, buscava refúgio para ler e escrever, minhas grandes paixões.
Desde pequena, frequentei o Fluminense, onde me aventurei no teatro, assim como no Clube Ginástico Português. No colégio, fui editora do jornal e escrevia os editoriais. Aos sete anos, meu avô, também escritor, publicou meu primeiro livro, no mesmo dia do lançamento de uma de suas obras.
Aos doze anos, uma nova aventura: alfabetizar crianças no Morro Santa Marta, junto com freiras e professoras. Em troca de brinquedos e jogos que eu levava, elas me presenteavam com histórias que eu transformava em narrativas escritas. Era um acordo tácito, aprovado pelos meus professores.
Acredito que essas lembranças já revelem um pouco da minha trajetória, repleta de alegrias e tristezas, vitórias e derrotas, que vivi intensamente. Hoje, recordo com saudade outras comemorações e agradeço à vida pela generosidade que encontrei em meu caminho.
Vânia Diniz
Conteúdo atualizado pela equipe Essenciar