Uma mania que considero deliciosa é passar as tardes de domingo nas livrarias dos shoppings. Lá encontro o meu mundo, como leitora totalmente compulsiva, reconheço. Nada mais agradável do que pegar e folhear livros, indo da orelha, ao prefácio e até a algumas páginas do conteúdo do autor seja poesia, prosa, romance ou documentário. Minha concentração é tão grande que por vezes não percebo um amigo ou conhecido que entra coincidentemente no mesmo lugar. E só depois que se aproximam tocando carinhosamente no meu ombro é que os vejo e os cumprimento efusivamente pedindo desculpas pela minha distração.
Desde muito pequena o livro é um vício, como se eu não pudesse viver sem ele. Até quando viajo, mesmo tendo um horário de obrigações a cumprir tenho que levar livros, a segurança de uma boa viagem.
Há alguns domingos almocei com alguns amigos e fui à livraria, já curtindo aqueles momentos fascinantes que existiram durante toda a minha vida. É como se naquele instante eu estivesse em outro mundo e nada pudesse me atingir. Uma sensação repetidamente deliciosa.
Um senhor de cabelos brancos parecendo uma pessoa simples, a pouca distância de mim fez-me um sinal dizendo:
-Quer comprar o melhor livro dessa livraria?
Entregou-me uma capa de cartolina entre várias que estava em suas mãos protegendo algumas folhas de papel digitadas e abri curiosa o que ele me oferecia como um livro.
Gostei do estilo do escritor a leitura agradável me deixou longe por algum tempo até que acabasse um período que me interessou.
Fitei-o perguntando se escrevia na internet e então ele me disse:
-Não, sou um escritor pobre. Nem computador eu possuo. Mas ao vê-la entrar senti que era uma escritora e que poderia se interessar pelo meu livro. E declamou um poema de sua autoria, de improviso e muito bonito.
Perguntei-lhe então como divulgava seus escritos e ele me respondeu que vinha seguidamente à livraria onde se sentia em casa e lá conseguia vender alguns. Recordei-me então de um famoso e maravilhoso autor, teatrólogo, ator e crítico, fantástico em seu talento indescritível, por quem sempre fui apaixonada e que me propus a pesquisar para elaborar sua biografia e que também numa época de sua vida fazia isso com seus próprios livros: Plínio Marcos.
Embora sem querer demonstrar eu estava muito emocionada. Refleti com certa nostalgia em relação ao meu colega. Sentia que ele era um artista, alguém que tinha talento, mas que não tivera oportunidades. Disse a ele que possuía alguns espaços na internet que me deixavam trabalhar ligeiro e que já divulgara muitos escritores que fossem competentes, mas tivessem dificuldade em ser divulgados. E agradeci a oportunidade que a vida me dera de ter podido cumprir esse sonho de forma eficiente, mesmo atualmente quando meu portal não existia mais.
Comprei seu livro e perguntei se ele não gostaria de ter uma página para que muitas pessoas vissem seus belos poemas e crônicas. A alegria brilhava em seus olhos e combinamos que ele levaria pessoalmente os trabalhos para que eu pudesse divulgá-los. Sua mulher entrava naquele momento e percebendo o que havia me agradeceu emocionada dizendo:
-Ele precisa muito. Muito obrigada.
Fiquei pensando como muitas pessoas não dão valor à divulgação e a recebem indiferentemente, embora todos saibamos que a internet é realmente um milagre da tecnologia. Sem ela estaríamos ainda com máquinas de escrever e papéis guardados nas gavetas e que a não ser que fossem publicados imediatamente, acabariam consumidos pelo tempo.
Dei a ele o número do meu telefone celular e sentia o quanto essa divulgação lançava esperanças para esse escritor simples, talentoso, mas sem possibilidade de mostrar sua capacidade e valor.
Domingo memorável. Eu conhecera um escritor talentoso que ia à Livraria oferecer aos leitores seu trabalho em folhas de papel envolvidas com cartolina. Que fascinante momento de emoção e que exemplo de amor à sua arte!
Conteúdo atualizado pela equipe Essenciar