Enquanto uma alegria percorria-me, sentia que precisava ficar só. Para curtir meus mais ínfimos sentimentos e procurar entender por que minha alma estava em festa. Pensei em muitos anos que haviam passado, alguns maravilhosos, lembrando minha infância e a adolescência curta e conturbada.
Recordei-me, então quanto precisava naquele dia voltar um pouco no tempo e adiantar-me no futuro, para que pudesse enriquecer mais ainda minha vida.
Mas era mesmo no momento presente, que as alegrias me contornavam de uma maneira mais eficaz. Não me interessava o futuro e meu coração se enchia de júbilo ao lembrar as coisas que via, embevecida e feliz.
É certo que as tristezas que perturbavam muitas pessoas transbordavam meu coração de tristeza pela impotência que sentia nessas horas. Mas a verdade é que hoje precisava aproveitar um pouco esses instantes e mesmo sendo um pouco egoísta, voltar-me para dentro de mim mesma.
Queria sentir ao máximo essa vibração que estava dentro de minha alma. Inexplicável, mas profunda! Aprendera naquele momento o segredo de me entusiasmar pelas pequenas coisas que faziam parte da vida de qualquer pessoa.
Estava em paz comigo mesma. Amava, sentia emanações positivas e maravilhosas, podia apreciar a natureza, pensar, recordar, fazer da minha imaginação um filme que era possível reproduzir.
Não sabia se estava ficando louca, mas se loucura fosse isso, queria curti-la muitas e inumeráveis vezes. Lembrava-me das terapias que já fizera em minha vida em que procurava dissecar meus sentimentos e enumerar tudo que pudesse ter me causado aflições ou tensões. E agora fazia justamente o contrário.
Muito tempo fiquei sentindo a natureza que se manifestava na vegetação verde da capital, em suas alamedas lindas e convidativas, o canto dos pássaros, o céu azul que lembrava minha infância, e sentia o sol a me aquecer docemente.
Fiquei longo tempo envolvida em meus próprios ecos a contar-me da alegria daquele momento mesmo que fosse algo inexplicável, mas sentir essa sensação era o quanto me bastava. Compreendi quanto tempo perdia em insignificantes lamentos e prometi a mim mesma, jamais repetir essa façanha.
Ali, usufruindo o prazer de pensar, agradecendo os dons que Deus me dera, entendi de repente o porquê dessa sensação que me fazia delirante. Não se tratava apenas de uma efusão de momento, de uma patologia que nos fazia felizes ou tristes alternadamente. Não. Pela primeira vez tinha colocado na balança tudo que fora minha vida até ali e chegara a conclusão o quanto ela era maravilhosa.
Tinha uma família, podia olhar-me no espelho e encontrar ternura, amor em meus olhos, tinha tido sempre coragem para jorrar minha alma em meus escritos desde criança, fora estimulada e era completa e profundamente amada. O que me faltava?
Continuaria, pois dali meu trabalho que eu tanto amava, ajudaria de forma ainda mais intensa meus protegidos e procuraria forças para jamais ter pena de mim mesma em nenhuma situação. Prosseguiria sempre com a mesma fé e carinho inabaláveis.