Resenha de “Anos de Ternura” de A. J. Cronin: Uma Jornada de Resiliência e Afeto na Escócia
Publicado originalmente em 1944 como “The Green Years”, o romance “Anos de Ternura” do médico e escritor escocês A. J. Cronin é uma obra tocante que acompanha os anos de formação de Robert Shannon, um jovem órfão irlandês enviado para viver com seus austeros avós maternos na Escócia. Com tradução brasileira de Rachel de Queiroz, o livro se destaca pela sensibilidade na construção do protagonista e pela exploração de temas universais como a busca por afeto, a superação de adversidades e a perseguição dos sonhos.
A trama se desenrola a partir da chegada do introspectivo Robert a um ambiente familiar hostil, marcado pela rigidez de seu avô, Papa Leckie, e pelas dificuldades financeiras. Em meio a um cotidiano de privações e incompreensão, um raio de luz surge na figura de seu bisavô, Alexander Gow, um homem espirituoso e carismático que se torna o principal pilar de apoio e afeto para o jovem. É essa relação singular e terna que injeta esperança na narrativa e impulsiona Robert a enfrentar os desafios.
Cronin, conhecido por seu olhar humanista e suas críticas sociais veladas – muitas vezes informadas por sua própria experiência na medicina –, tece uma narrativa envolvente e detalhada. O autor explora com maestria as complexidades das relações familiares, o impacto do preconceito (Robert enfrenta a intolerância religiosa por ser católico em um meio predominantemente protestante) e a luta por ascensão social e intelectual. O sonho de Robert de se tornar médico, apesar dos obstáculos impostos pelo avô, é um fio condutor que simboliza a busca por um futuro melhor e a realização pessoal.
Os personagens são bem construídos, com destaque para o contraste entre a severidade do avô e a generosidade afetuosa do bisavô. Robert Shannon é um protagonista com o qual o leitor facilmente se identifica, acompanhando seu crescimento emocional e suas pequenas vitórias com genuíno interesse. Amigos como Gavin e Allison também desempenham papéis importantes em sua jornada, oferecendo momentos de leveza e companheirismo.
O estilo de A. J. Cronin em “Anos de Ternura” é caracterizado por uma prosa fluida e descritiva, que transporta o leitor para a atmosfera da Escócia do início do século XX. Embora permeado por momentos de melancolia e dificuldade, o livro carrega uma mensagem fundamental de esperança e resiliência. A inesperada herança deixada pelo bisavô, que possibilita a Robert ingressar na universidade, surge como uma recompensa por sua perseverança e pela força dos laços de ternura que cultivou.
“Anos de Ternura” alcançou grande popularidade à época de seu lançamento, tornando-se um bestseller e sendo adaptado para o cinema em 1946, o que atesta seu apelo duradouro. É uma leitura que comove e inspira, recomendada para aqueles que apreciam histórias de superação, dramas familiares bem construídos e personagens cativantes que lutam por seus ideais em meio a um mundo por vezes adverso. A obra permanece como um testemunho da habilidade de Cronin em retratar a condição humana com profundidade e compaixão.
Vânia Moreira Diniz
Conteúdo atualizado pela equipe Essenciar