Nas derradeiras horas da madrugada, quando o dia teimava em raiar, fui invadida por uma paz renovada. Acredito que essa sensação de serenidade absoluta, tão esquiva nos dias de hoje, seja a mais sublime que um ser humano pode experimentar.
Durante a semana que se arrastou, uma angústia implacável me dominou, atiçando uma ansiedade que me impedia de encontrar o equilíbrio. Pensamentos insistentes me assaltavam, com a fúria de um furacão, ultrapassando barreiras e atormentando meu coração. Até mesmo lembranças da infância me perseguiam, pois, como me disse um psicólogo amigo, “resistir às memórias é inútil, já que elas podem ser a chave para o presente”.
Eu sabia que a dor que me afligia tinha raízes no presente, mas encontrava ecos na infância, impedindo a cura. Era preciso extirpar esses fragmentos incrustados em minha alma. E assim, privada do apoio terapêutico, busquei me reencontrar, despindo-me de máscaras para que meu autoconhecimento emergisse em toda a sua complexidade.
Habituei-me a trilhar os caminhos do autoconhecimento, mas foi naquele momento, com o amanhecer tingindo o céu, que percebi algo oculto por anos de autodefesa. E então, a razão do meu tormento se revelou, ainda que em lampejos de intuição. Em meio à adversidade, experimentei a paz genuína, reconhecendo-a por sua raridade. Descobri que a serenidade pode florescer mesmo em meio à tristeza e à dor. E ela se instalou em mim no instante em que resgatei uma cena da minha infância.
A partir daí, mergulhei em um mar de recordações, revivendo os momentos felizes que teceram minha vida, as pessoas que me amaram intensamente e aquelas que permanecem ao meu lado, mesmo nos momentos de turbulência.
Agora, me restava cultivar a fé, buscar o auxílio da minha terapeuta para confirmar a veracidade dessa paz e rogar a Deus que ela perdurasse, acolhedora como se instalara.
Vânia Moreira Diniz
Conteúdo atualizado pela equipe Essenciar