Recomeçar é sempre difícil. Difícil, extenuante e por vezes mexe com nossa auto-estima. Estou falando do intelectual e do literário. Muitas vezes olhamos tudo que empreendemos para trás, um mundo que construímos com sacrifício, valor persistência e garra. E de repente vemos que àquela altura devemos recomeçar.
Não sei quantas pessoas vemos recomeçar em vários campos da vida. Porque não recomeçarmos sempre literariamente falando?
Sei que enquanto apenas os elogios nos habitarem e nos acomodarmos estagnaremos cruelmente. E não há nada pior do que o morno da vida, a falta de vibração e entusiasmo em nome de algo que já conseguimos.
Estava recordando justamente, uma conversa que tivera com meu pai há muitos anos. Durante o jantar eu vira “os mais velhos” comentando sobre a necessidade de um profissional ultrapassar sempre, estudar cada vez mais e ir galgando com a experiência e o estudo patamares realmente adequados.
Pouco depois entendi que se tratava de um médico, um dos mais famosos do Rio de Janeiro. Perguntei a meu pai a razão do comentário e ele me disse algo que jamais esquecerei.
Minha filha, nunca estaremos evoluídos o suficiente se pensarmos que já sabemos tudo. Temos sempre até o fim da vida algo a aprendermos. Só aproveitamos 10% de nosso cérebro e do que poderíamos utilizá-lo. Mas o que mais pode fazer-nos retroceder é a certeza que já sabemos tudo.
Durante alguns dias tenho pensado nisso e nessa certeza importantíssima de nossas vidas. Viajo no tempo, caminho, ando por lugares desconhecidos, fazemos de tudo, mas jamais teremos a mesma vibração se resolvermos parar em novos conhecimentos e experiências em nome de que já estamos prontos. Jamais estaremos prontos. Nunca! Em momento algum ou é melhor morrermos de uma vez.
A vida é um eterno e fascinante aprendizado, mas quero crer que aquele orgulho ali escondido em nossas mentes nos faz ter essa idéia de realização completa. Não estarei realizada nunca, e buscarei sempre novos rumos cujos horizontes sejam realmente reservas de esperanças, valor, qualidade e verdade.
Contemplo tudo que já fiz na minha vida, releio os meus escritos, tento entender muitos pensamentos ali registrados, sinto-me por vezes como se estivesse enunciando aqueles preceitos e a conclusão que aparece ante meus olhos é de recomeço.
Recomeço não para anular tudo que fiz, mas para reavaliar imprimir mais qualidade, sensações ainda mais profundas de afetividade e de ternura, e continuar sempre com respeito aos semelhantes, mais percepção, discernimento, uma inspiração progressiva e potencialidades aperfeiçoadas.
Vânia Moreira Diniz