Nos passos do avô… com uma autoridade própria, – a independência antes de tudo -. Vânia nasceu no Rio de Janeiro num ano qualquer, do calendário Gregoriano. Uma mulher trindade, a festa, a literatura e o humanismo. Falar de Vânia, é fazer diversas viagens, correr saltar e dançar com ela nas morenas noites de Carnaval, do Rio a Salvador, de Brasília a S. Paulo. Vê-la descalça pisar as pétalas ainda odorantes que, virgens ou mãos calosas lançaram como tapete para uma rainha.
A mulher física avulta e não passa despercebida no emaranhado populacional que encanta o mundo com os seus desfiles, nas ruas sempre navegadas pela mesma paixão. Esta proficiência, herdou-a do seu povo, que ama mais do que tudo.
A Vânia humanista, veio talvez da educação familiar, oferecida pelos pais, que a herdaram doutros pais, transmissão natural, sempre atada aos ascendentes, amarro que é extensivo, pois procede para os descendentes, como a água da fonte desagua no mar.
Do pai, herdou a força de carácter o espirito empreendedor e exigente, Vânia é uma parte do meu poema, “A carpa e o Escorpião” – a doçura espontânea do peixe, meio de transporte e, o aguilhoo bem temperado do animal, aguilhoo que utiliza em doses homeopáticas, ou até em doses robustas; quando a verdade ou o direito a assiste – no fundo, é uma mulher metáfora, uma pedra (lápis-lazúlis) em trânsito de lapidação.
Mas é na literatura que a Vânia faz transparecer toda a sua capacidade de mulher orquestra. Aqui, sem descurar os conselhos dos seus pais, mas sobretudo do seu avô, aqui, ela constrói com as suas próprias mãos intelectuais, o seu espaço alexandrino, é evidente de notar que pretende colar as suas letras e construir o seu próprio farol. Se na poesia, é já reconhecida como uma das grandes autoras contemporâneas, na prosa por inteiro, ou agora parcelada (contos, causos, artigos de opinião ou jornalísticos) ela segue as pisadas dos seus mestres de hoje ou de ontem, das suas leituras de adolescente, a admiração sem término por Monteiro Lobato, escritor que marcou profundamente a sua infância; e que é sem dúvida, um dos responsáveis pelo seu amor às letras e pela sua carreira literária.
Na abordagem ao manuscrito que me foi enviado “Pelos Caminhos da Vida”, é uma das suas realizações literárias, aqui editada em e:book e que transitará a curto termo para o papel, tenho a absoluta certeza. Esta obra não desobriga o que acima foi dito, sobre a trindade: Jogava as serpentinas como eu observava os adultos fazerem e ficava enfeitiçada pela direção imprevisível que elas tomavam. A vertente festiva, na afirmação do seu carinho pelo Carnaval Carioca, em pano de fundo, a intenção de integrar aquele mundo mágico. Minha vontade é beijá-la e protegê-la do mundo e da vida, dizendo-lhe que sempre estarei aqui. A vertente humanista, transpira neste parágrafo que nos aparece como um grito de impotência, a sociedade incaracterística modela comportamentos singulares, que tentam inverter os defeitos da lógica global, gota de água no imenso oceano brasileiro, estes pontuais ações atenuam, mesmo que ligeiramente o sofrimento de alguns. Como outros(as) Vânia dá o seu contributo, que no seu caso nos parece, mais encargo do que cargo. O humanismo vem do fundo das educações tradicionalistas, como um dos predicados que não devem afogar-se na egoísta modernidade. Tudo me parece tão efêmero na vida que faz com que meu coração pulse pelas coisas mínimas e mais pueris, como um gesto, uma flor a desabrochar, um carinho, aquele especial beijo de ternura, o abraço que me faz vibrar a alma… A coroação do texto puramente literário deriva sempre, para os termos sentimentais, Vânia aparamenta a sua literatura prosaica ou versal, com componentes enraizados no seu espirito. Qualquer guita a amarra ao sentimentalismo, não ao predicado choramingueiro, produtor de geometria bicuda, mas ao verdadeiro sentimento, aquele que produz resultados nas três vertentes aqui descritas. Alegria, Dádiva, Realização. Louvemos mais esta sua obra, qual que seja a sua categoria literária, ela despertará a atenção das almas sensíveis. Pelos Caminhos da Vida, é uma obra que vem da essência dum caminhante. Saudamos a sua passagem, com desejos de que o caminho seja o mais longo possível.
Fernando Oliveira
Paris 30 março 2005