Acordei de madrugada com a sensação de vazio. Perguntei-me por mim mesma e não me encontrei em nenhuma sensação.
Minha alma ia longe, quando pude perceber que nada estava concentrado em mim. A memória encontrava guarida, em cenas pungentes ou não, que haviam soprado em minha vida. E eu procurava na penumbra, fugir de tudo que pudesse me enternecer.
Puxei os lençóis para cima como a procurar a proteção do meu ser interior, aquele que não se vê, mas é machucado com facilidade. E pude perceber que estava sensível, doído, muitas vezes devastado. Fiquei ali a fazer-lhe companhia e querendo aliviar suas múltiplas feridas. Elas estavam abertas e requeriam cuidados.
Sabia que entre diversidades mil, infindáveis alegrias tinham se instalado, espaçosas, belas e fazendo parte de um dia–a–dia razoável. Mas elas se mantinham independentes e conseguiam sobreviver por si mesmas. Sem maiores supervisões. Deixei-as então tranqüilas e me preocupei com as dores que estava sentindo.
Reconhecia que o mundo não se incomodava com elas e continuaria a girar em seu rodopiar ininterrupto, apesar de todos os atropelos. Veio-me a ideia de Deus. Mas onde estava ele? Onde estava ele, nas preces que a humanidade fazia? Onde estava ele, que nesse momento talvez não me pudesse ouvir? Onde estava ele, ser onipotente e poderoso, que talvez não quisesse escutar a minha voz que se tornara frágil pela intensidade da dor! Onde estava ele?
Recorri, então para meus entes queridos que haviam partido, mas só podia vê-los na inconsciência do meu cérebro a relembrar imagens e miragens! E gritando pedia que se aproximassem, para que eu pudesse vislumbrar seus rostos amados e desaparecidos!
Muitas cenas pareciam tornar-se realidade e procurava me adequar a todas a elas, desejando que estivesse vivendo uma realidade palpável! Como desejava que nada daquilo tivesse sido uma realidade ultrapassada!
Meu cabelo estava úmido de suor enquanto meus olhos se abriam procurando na semiobscuridade do ambiente um socorro, um grito, um reconhecimento, uma vida. E parei no tempo, numa infância pontilhada de surpresas, vivências adormecidas, porém amadas e reminiscências que chegavam assombradas na sua fantasia.
Pensei em milhares de pessoas que deviam estar passando, embora de forma diferente, pelas mesmas experiências e quedei-me menos agitada, as lágrimas molhando o rosto que se mantinha deitado no travesseiro já úmido.
Nesse momento, acenou-me uma pergunta que já tinha perturbado minha infância faceira e encantada pelos episódios fascinantes ou fatos mais objetivos: Quem éramos nós e o que era a vida? Conseguira apenas, sempre respostas perturbadoras e inadequadas que se misturavam e formavam quadros estarrecedores.
Vânia Moreira Diniz
Conteúdo atualizado pela equipe Essenciar