Eu era ainda muito pequena quando visitava a biblioteca de minha casa e me sentia empolgada com os livros que lá estavam. O livro que mais mexeu com minha emotividade na época, foi sem dúvida “Minha Vida de Menina”, de Helena Morley. Eu tinha apenas O9 anos e a autora 14. Assim me identifiquei com a jovem escritora a ponto de nunca me separar dessa obra. E olhe que o tempo que me distancia da primeira leitura desse exemplar é longo. Trata-se de um diário que me encantou nos dias de menina, levando-me a querer entender o que havia de tão especial numa cidade do interior apimentada de fascinação pela narradora do livro.
Seu pai foi o grande incentivador ao lhe sugerir a ideia de escrever todos os dias. E assim Helena Morley, descendente de ingleses cujo nome verdadeiro era Alice Dayrell Caldeira Brant, começou a fazê-lo com religiosa frequência.
Creio que esse livro me seduziu pela compreensão da menina aos aspectos os mais variados da vida, a percepção da caminhada lenta da tecnologia, a consciência da diversidade social e ao mesmo tempo o envolvimento com o mundo escrevendo com precisão e unindo ingenuidade e perspicácia, dissertando com sinceridade suas impressões das mais simples às mais complicadas e escrevendo a forma de viver de seus parentes naquela pequena cidade mineira, não se importando com as críticas sutis e encantadoras.
Claro que na época eu não sabia discernir o brilhantismo da literatura que eu já amava, mas compreendia mesmo que de forma tênue o quanto aquele livro iria me influenciar. Suas descrições singulares me enchiam a alma de emoção mesmo que eu não soubesse compreender a verdadeira profundidade.
Essa obra me cativou tanto que muitas vezes no caminho da minha vida tenho lembrado de seu conteúdo e voltado a lê-lo e o mais interessante é que consigo sentir uma emoção que além de trazer recordações continua a me envolver profundamente.
O Poeta Carlos Drummond de Andrade e Elizabeth Bishop viram no livro o valor literário que os impressionou como ao próprio Guimarães Rosa. Muitos literatos chegaram até a duvidar da idade da autora pelo que vislumbravam no brilhantismo histórico.
Vânia Moreira Diniz
Conteúdo atualizado pela equipe Essenciar