Desde 01 de Março de 2022

O Encontro Casual

Vânia Moreira Diniz - escritora

             Ele estava a dois passos de mim e me olhava como se quisesse me abraçar. Há muitos anos não o via e agora ao perceber aquele homem tão bonito que eu tivera a ilusão de amar, sentia que o que restara para mim fora apenas uma terna lembrança. Terna, mas distante. Sentindo seus olhos concentrados em meu rosto imaginei que estivesse querendo captar o que se passava naquele instante. Estava simplesmente sentado atrás de uma mesa de executivo e cuja porta eu abrira por engano quando na verdade quisera visitar outra pessoa. Mas algo além da surpresa e do chamado dele me fizeram entrar na sala.

          Fui me aproximando devagar até que ouvi o som da sua voz:

         – Você não mudou nada. Continua a mesma mulher pela qual me apaixonei!

         – Então ambos não mudamos…

            Ele riu, mas o som me pareceu apenas um arremedo da gargalhada que ele quisera encenar. E me perguntava o que me parecia bizarro naquela cena inesperada.

          -Continuo apaixonado por você e fixado e fascinado pelos seus olhos.

          Recordei, então nosso relacionamento tempestuoso perguntando-me se ainda havia muito da antiga intrepidez em seu temperamento impulsivo. E imaginei que sim, só que compreendi que parecia ter receio de alguma coisa. Mas não tinha certeza.

          -Acho que hoje podemos ser amigos embora depois de nosso último encontro nunca mais o tenha visto.

          Seus olhos grandes e escuros me pareceram ainda mais negros com a sombra das recordações a perturbá-lo e perguntei-lhe sem me conter

         – O que há com você? Aconteceu alguma coisa além desse nosso encontro casual?

         -Já foi há alguns anos, mas me responda. Foi morar em outro lugar?

         -Sim, por uns tempos. Mudança de emprego e de lugar.

         -E nunca mais pensou em mim ou quis saber notícias?

         -Preferi assim. Reatamos várias vezes nossa relação por aquela paixão que nos consumia, mas sabíamos ambos que não daria certo. Nossos temperamentos sempre foram opostos. Tínhamos que aprender a viver sem ela.

          Quando o fixei seu rosto estava devastadoramente amargurado enquanto me perguntava

          – Então não soube de nada?

          -Nada o que? E estava ansiosa quando fiz a pergunta

             Ele não respondeu. Apenas deu um impulso à sua cadeira de executivo e chegou até perto de mim, num segundo tão rápido que tive a ilusão de estar tendo um pesadelo.

           Suas pernas imóveis na cadeira pareciam inertes e frágeis debaixo da calça leve e não sei como nem porque lhe perguntei ainda:

           -Como aconteceu isso. Não pode andar?

            Algumas lágrimas que ele não conseguira impedir desciam de seus olhos enquanto dizia:

           -Tortura maior foi imaginar que você tinha ido embora para não me ver depois do meu acidente.            Permaneci calada, enquanto a dor tomava conta de mim, transtornada e petrificada, tentando compreender por que razão não fora me despedir quando resolvera definitivamente mudar de vida e de cidade. Sentira desejo e lutara contra isso. Por quê?

Vânia Moreira Diniz

Obra de ficção. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

Conteúdo atualizado pela equipe Essenciar

Compartilhar Artigo:

Facebook
Twitter
Pinterest
LinkedIn

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

RELACIONADOS

Você também pode gostar

Minha amiga Laura

Eu a conheci há muitos anos, quando atravessava momentos difíceis. Era uma mulher belíssima, alguns anos mais velha, e possuía um carisma que poucas vezes

Terceira carta do amor insone

Para Vaninha Moreira Diniz Luiz Alberto Machado Todas as manhãs, Vaninha, tal como o mar que nunca dorme, eu fico à espera que mede o

Segunda carta do amor insone

Para Vaninha Moreira Diniz Luiz Alberto Machado Não só falarei das manhãs esplêndidas de outubro, Vaninha, musa minha, mas das tantas manhãs de penumbra diáfana

plugins premium WordPress