Hoje tudo me parece mais viçoso, enquanto contemplo sentada à minha mesa de trabalho a paisagem que se estende lá fora. Penso sempre nesse mistério da vida em vários sentidos. E na continuidade impressionante e infinita de todos os enigmas criados. Não é uma questão de crença nem de religião.
Mas aquele maravilhoso desenrolar de todos os acidentes naturais, que compõem a natureza harmoniosa e belíssima. Com suas implicações majestosas e consequências benéficas, que transportam ao ser humano o dom da vida e da continuidade.
Penso na perpetuação dessa espécie maravilhosa, formada por alguém que tem um corpo apto a crescer e se desenvolver. Sentindo cada sensação física e um interior rico de emoções e sensibilidade, sendo capaz de interiorizar ou extravasar cada momento e de num rasgo de amor e generosidade expressar sentimentos.
Não admito olhar para esse horizonte sem fim, onde os reflexos do sol douram os pontos luminosos expostos e não acreditar na obra de um criador. De alguém que fosse sensível à beleza, na sua forma mais perfeita e insondável. Plena e misteriosa!
Quando contemplo as montanhas tão soberbas, as planícies tranquilas e rasteiras, os rios e lagos em trabalho incessante, os campos imensos cujo verde ameniza a agitação de nosso espírito, as flores delicadas, convite à apreciação da delicadeza em forma natural, penso numa obra tão magnífica e inimaginável, que me comovo. Isso sem falar no céu de um azul intenso, as nuvens que desejaríamos até poder senti-las, nas estrelas, no sol que nos aquece e fanatiza. E poderemos chegar à conclusão, que a vida vale pela apreciação e convivência com elementos tão estarrecedores.
E o ser humano que carrega infinitas potencialidades e cujos detalhes impressionam nas ínfimas utilidades que proporcionam como compreendê-lo? Como perceber a verdadeira razão oculta e deslumbrante da vida! Evidentemente é a obra mais perfeita, porque se compõe de duas faces, uma das quais tão incrustadas em detalhes, que seria inútil tentar defini-las.
O mistério a que me refiro está dentro de nós mesmos, creio. E não é com frequência que pensamos nele. Nem com profundidade! Mas na verdade é algo tão insondável, que por vezes em nossos recolhimentos voluntários ou não, conseguimos vislumbrar em que proporção somos necessários, como parte integrante de uma humanidade que caminha inexoravelmente.
Um dia, talvez possamos perceber esse peso de conteúdo e riqueza que se encontra em cada um de nós. E entendermos, que de nada vale violência ou egoísmo, se caminhamos para um lugar comum através de uma estrada que deverá ser trilhada em harmonia e paralelamente. Chegaremos à conclusão de que os passos podem ser diferentes, mas a direção é a mesma e seja qual for o ponto final, chegará para todos nós. É o mistério maravilhoso e arrebatador mesmo que, atemorizante pela sua incompreensão lógica.
Vânia Moreira Diniz
Conteúdo atualizado pela equipe Essenciar