Fui criada familiarizada com os médicos. Cresci no meio deles. Meus tios, meu avô paterno o eram e aprendi o toque mágico que significam suas mãos e a ciência que dominam.
Mas assim como a maioria deles é maravilhosa (diga-se de passagem), poderão também significar no sentido negativo (e são raros) a descrença na vida, o desespero e até a morte. E é por isso que o rigor deve ser levado a sério acerca de tão importantes e ilustres profissionais.
Vemos hoje especialmente médicos que indiferentes ao sofrimento dos outros, deveriam desertar de sua própria profissão. Não é só ter talento, estudar, fazer doutorado, defender teses, ser senhor absoluto em seu campo e serem chamados de Doutor.Mas é tudo isso aliado à humanidade, à generosidade. Sem esses elementos não se conseguirá um médico no sentido amplo da palavra.
Acho que são justamente Relações Humanas e amor, que as faculdades de medicina deveriam ensinar como matéria básica e tentando extrair os sentimentos intrínsecos que existem dentro de cada estudante.
Isso não é só importante nessa profissão, é claro, porém é justamente nela que se lida com o ser humano frágil, doente, necessitado, carente e muitas vezes desesperançado.
E hoje vemos com muito maior freqüência a frieza entre os seres humanos. Isso já é por si só algo que deveria ser pacientemente ensinado, desde a infância em colégios iniciando-se nos primeiros anos e não finalizando jamais.
Retornando ao assunto principal, os médicos são as pessoas que mais influenciam a vida de uma pessoa, ou seja, a população em geral. E eles sabem disso. Quando se formaram fizeram o juramento de Hipócrates e nele se incluem todos esses elementos. E tem a obrigação de cumpri-lo em toda a extensão da palavra.
Portanto aqui o protesto ao profissional da área de saúde que é capaz de usar frieza, inconstância, aparente indiferença no trato com seus clientes, principalmente com aqueles que carecem de assistência negadas pela própria vida.
Há muitos anos, os médicos de família iam à casa de seus clientes e isso era um conforto na hora de uma doença dolorosa. Lembro-me a triste circunstância de uma criança que eu vi sofrer desesperadamente com “nefrose”. Suas dores eram imensas, os pais tinham dinheiro e situação, nível social elevado e cultura invulgar. E mesmo assim o conforto de médicos dedicados os livrou do desespero total. A assistência especial e afetuosa dos profissionais não deixava que eles caíssem em depressão ou angústia profundas.
Sei que os médicos têm família e vida própria, mas já que escolheram a medicina são mais missionários do que outra coisa qualquer. Muitos realmente são. Mas e os poucos que não querem pensar que a vida deles é diferente? Mas é. Mesmo que não queiram e neguem essa afirmativa. Tem que ser diferentes pela própria natureza do que fazem.
Para que a classe tão merecedora não seja desprestigiada quero lançar um protesto àqueles que ainda não compreenderam isso.Ainda que seja em tempos modernos, na atualidade difícil, na vida complicada de uma cidade conturbada, os médicos são pessoas peculiares cuja obrigação principal é senão tirar ou remover doenças (isso por vezes é impossível, humanamente falando), mas dar consolo e ter predominantemente o sentimento de ternura como base de sua estrutura. Competência e humanidade. Indicativos do profissional perfeito.
Não consigo entender esse profissional que não se comove com a aflição alheia, mesmo que esteja acostumado ao sofrimento.
Desejo, no entanto fazer uma homenagem à maioria dessa extraordinária categoria, os heróis verdadeiros (e eu conheço muitos) que mesmo á sombra realizam o maior trabalho que alguém pode executar. Quero agradecer em nome de uma população que se conforta ao encontrar no caminho de sua existência esses heróis, que batalharam durante toda uma vida conhecendo, pesquisando, estudando e carregam com essa bagagem o amor, a solidariedade, a compreensão e uma humanidade que só eles são capazes. Não obstante a luta, os dias cansativos e tensos, os clientes irritados, o sacrifício da família e dos amigos e de toda uma vida sacrificada. A despeito da ingratidão, das noites insones, do desconforto, das cenas dolorosas, das consternações abundantes. Apesar de tudo eles continuam fortes, magnânimos e imprescindíveis. Aos heróis o nosso agradecimento.
Vânia Moreira Diniz
Conteúdo atualizado pela equipe Essenciar