Será que algum dia saberemos ou poderemos definir a mágoa? Ela acontece desde que nascemos. É uma palavra, um gesto e tudo se desencadeia de modo a deixar uma ferida que pode ter tamanhos diversos. A mágoa não é raiva. É algo que machuca realmente e sentimos como se estivesse no coração. Não posso esquecer jamais uma amiga que um dia, tendo brigado com a família assim me falou:
-Está doendo, muito. Parece que é aqui (ela apontava para o próprio coração).
Em muitas ocasiões na infância quando ainda não se sabe explicar o que causou esse sentimento tão complexo, quando as lágrimas rolam sem explicação e a garganta dói tamanho é o nó que a intercepta impedindo até de engolir, as crianças se assustam pelo mal que não compreendem.
Na dificuldade dos dias de hoje, em que as pessoas em geral não se preocupam com quem está ao lado, reagindo de forma indiferente a qualquer apelo ou pergunta por vezes até dentro da própria família a mágoa se tornou um prognóstico constante e nada otimista.
Diversas vezes confundimos mágoa com raiva. E essas duas sensações podem à primeira vista ser semelhantes, mas absolutamente não são iguais. A raiva não cabe dentro da mágoa que é por si só um sentimento que provém da afeição não compreendida ou tratada de forma inadequada. Mas assim como uma gripe não recuperada pode se transformar em pneumonia ela pode se não identificada ou diagnosticada transformar-se em algo crônico e doentio.
Não posso esquecer de um grande amigo que em determinada época de sua vida estava ansioso e infeliz. A mulher o havia deixado e ele sabia que com razão. Muitas vezes eu o vira magoá-la e ficava triste porque era uma mulher fantástica, suave e linda. Magoada, ela resolveu sair de sua vida e encontrou um grande amor.
Luciana estava ferida com a ânsia que lhe contornou a vida no tempo que vivia com Roberto. E ela me disse que antes que se transformasse em outro sentimento menos nobre prefiria se afastar. Realmente o fez e abriu seu coração encontrando alguém que lhe deu o valor merecido. O meu amigo não se conformou. Teve um ódio surdo que chamava de mágoa e prosseguiu muito tempo com isso no coração. A ponto de estragar sua vida pessoal e profissional e querer se separar de todas as pessoas que continuavam amigas de Luciana.
Aí está a diferença. A de Luciana era uma ferida que acabou cicatrizando e a de Roberto já começou como um tumor maligno que corroeu, estragou e amargurou sua vida de uma forma progressiva e célere. Danificou as raízes de seus mais profundos sentimentos e tornou sua vida um tormento para ele e para as pessoas com as quais convivia.
Mágoa é uma ferida. Que pode lentamente cicatrizar e ficar insensível ao toque ou tomar proporções gigantescas, difícil de um tratamento efetivo e recuperador. E compete nesses casos ao seu portador avaliar o seu estado e saber procurar o socorro adequado que trará o alívio necessário e tranquilizador.
Mágoa é uma ferida. Não aprofundemos a sua dolorosa progressão.
Vânia Moreira Diniz