É comum ouvir críticas ao estilo romântico de José de Alencar, e a obras como “A Pata da Gazela” e “Diva”. No entanto, minha perspectiva sobre sua produção literária não mudou desde que o li pela primeira vez, ainda jovem. Adoro seu vocabulário, sempre surpreendente em sua capacidade de inovar a língua. Lembro-me de que seus livros vinham até com um dicionário para as palavras menos comuns que ele empregava. Essa riqueza romântica e os tempos que ele tão bem descreveu, em contraste com o século em que vivemos, simplesmente me cativam.
Apesar das profundas transformações que o tempo trouxe, suas obras continuam a exercer um fascínio imenso sobre mim. Ele foi um autor que me marcou profundamente na adolescência. Li todos os seus volumes e em cada um me sentia completamente imersa, surpreendida pela sua literatura excepcional, pelo léxico abundante e pela sensibilidade tão profunda que eu me entregava totalmente à leitura. Era uma aventura a cada página, e o dicionário se tornava um companheiro indispensável, desvendando camadas de significados e expandindo meu próprio universo de palavras.
Acredito que hoje precisamos mergulhar um pouco mais nessa sensibilidade de uma época de ouro. Posso afirmar que, mesmo percebendo o contraste com a literatura atual, mantive o mesmo interesse, admiração e curiosidade ao relê-lo recentemente.
Isso me fez recordar o quanto eu me dedicava, com o dicionário ao lado, absorvendo palavras e conceitos que, naquele período, me encantavam por completo. É assim que funciona: lemos livros que nos enriquecem e, muitas vezes, não retornamos a eles para nos aprofundarmos na diversidade e preciosidade de outras obras.
Penso que temos fases na vida, em todos os sentidos, e a leitura é interpretada pelo grau de maturidade que alcançamos. Lembro-me de quando meu pai me deu a coleção de José de Alencar, em capa dura e verde. Recordo a ansiedade que senti ao começar a ler e como fui totalmente envolvida por suas frases de beleza ímpar, que me levavam a um estado de profunda contemplação. Sentia-me plena naquela época, e atualmente continuo absorvida e encantada com esse escritor que usava as palavras como se fossem a magia da nossa língua: vocabulário, sentimento, imaginação e muito talento. Tenho um imenso orgulho de ter lido esse “mago” das palavras e do sentimento, e sinto-me profundamente feliz por ser constantemente influenciada por essa literatura preciosa que tanto amo.
Vânia Moreira Diniz
Conteúdo atualizado pela equipe Essenciar