Nasci no asfalto, carro por todos os lados, barulho ensurdecedor, vida, movimento e a praia a poucos passos de mim. Hoje estou aqui, a convite de amigos numa fazenda, relativamente perto de Brasília. E ouço o canto dos pássaros, o horizonte que se doira à medida que a manhã fica para trás e o sol se intensifica, e escurecendo quando o dia vai morrendo, o sol se pondo.
Sento-me ali numa rede (que sempre me deixa um pouco tonta) no terraço espaçoso, a contemplar de longe a natureza maravilhosa e me extasiar. Uma sensação de tanta beleza que me aperta o coração e ainda é mais um motivo para crer na existência de Deus.
Vejo crianças correndo, como se quisessem tirar o atraso do espaço maravilhoso que os apartamentos não possuem, e vibrando nessa empreitada de fazer parte do universo que se apresenta de mil maneiras.
E meu pensamento, então, toma dimensões variadas, atrasa-se para imagens já passadas e adianta-se em sonhos futuros belos e felizes.
Pergunto-me se é permitido sonhar coisas tão especiais, quando vemos atrocidades e violências no mundo, desespero de milhões de seres humanos, irmãos de caminhada sofrendo martírios inomináveis. Sinto-me junto deles a abraçá-los querendo protegê-los de tanta devastação. E fixando-os na memória para que pudesse enviar pensamentos de amor, solidariedade, ternura e confiança.
Mas a vida tem que continuar, rimos e choramos, apesar do que se desenrola à nossa volta. Meu coração procurava absorver cada trecho daquele paraíso de tranquilidade e beleza. Recordei vários episódios ali, enquanto “sentia” cada momento extraordinário.
Todos estavam em volta da piscina, mas eu tinha pedido para ficar um pouco ali, enquanto captava os detalhes daquele lugar, e escrevia um poema.
Depois me passou pela cabeça quanta bondade, delicadeza e humanidade existem na maioria das pessoas, e como eu já me emocionara em oportunidades várias com essas demonstrações. Fechei os olhos deliciando-me com o cheiro da natureza de que aquele lugar estava impregnado, com o silêncio, tão raro para mim e com o fato de pertencer a esse planeta cujas emanações me sensibilizavam tanto.
Foi quando vi muito longe uma criança de seus 10 anos que eu conhecera na minha chegada, que me fazia sinal sorrindo e levantei-me para entender o que ela queria. Pude perceber que andava com dificuldade, e um problema de falta de coordenação motora tornava seus passos lentos e desordenados. Mas isso não impedia que ele sorrisse enquanto tentava correr a seu modo e me dissesse que eu o esperasse, porque ele queria ficar ali.
Esperei-o em pé, lamentando tudo que me desanimara antes, enquanto a criança me dizia com dificuldade, mas cheia de vibração.
-Já cansei de ficar na piscina. Queria ficar aqui. Estou tão feliz! E abrançando-me completou:
– Gostei tanto de você! Podemos conversar?
Enquanto estendia minha mão para abraçá-lo, meus olhos se umedeciam intensamente por aquele instante de felicidade inusitado e maravilhoso.
Conteúdo atualizado pela equipe Essenciar