Sempre que penso nesse tema reporto-me aos tempos gostosos que convivi com meus avós. Foram dias felizes da minha infância entremeada de deslumbramento e alegria. Moravam na Gávea no Rio de Janeiro e eu recordo os almoços e jantares em que reunia muita gente atraente. Meu avô era além de advogado e político, um escritor a quem todos respeitavam muitíssimo e eu costumava encontrar em sua casa, muitos escritores e pessoas interessantes o que me deixavam realmente encantada.
Minha imaginação trabalhava pensando como seria quando crescesse e pudesse também ter o mesmo tipo de atividade daquele ruidoso e atraente grupo que me fazia ficar horas a cismar. Nunca esqueço de um deles que havia me dito a sorrir que seu problema maior era a preguiça sempre crescente, de começar a escrever, mas quando iniciava não sabia como parar.
Hoje recordando o que aquele mestre da palavra dizia, imagino exatamente o que queria transmitir. Muito difícil se me afigura parar quando a imaginação em transe caminha inexoravelmente mergulhando num mundo encantador sobre todos os aspectos. Mesmo que seja um assunto algo árido, a evolução do pensamento é impressionante nos seus mínimos detalhes.
Claro que o ofício de escritor geralmente é solitário. Mas é uma solidão em que o emergir da imaginação nos faz adquirir amigos reais que pertenceram ou pertencem ao mundo que visualizamos. Imaginação é o primeiro grande elemento para qualquer atividade que exerçamos e principalmente quando se trata de criar e escrever.
Não poderei deixar de lembrar jamais como meu avô me dizia nas conversas informais de minha infância da importância da imaginação em qualquer acontecimento da vida. E costumava me advertir na dosagem exata dessa porção milagrosa.
“Consumida de modo indiscriminado poderá matar, mas dentro do que é necessário é capaz de solucionar problemas incontroláveis”.
Atualmente compreendo perfeitamente e nas suas proporções, o que aquele extraordinário escritor e dono de uma filosofia intensa queria me passar. De vivência, prazer, liberdade e muito condicionamento. De entusiasmo e alegria. De estímulo e fantasia.
Ao contemplar o horizonte sem fim que surge ante nossos olhos deslumbrados, ao sentir o sol queimando a pele, ao ver as estrelas brilhantes em sua extraordinária luminosidade, ao encarar todas as obras que Deus ofertou nesse universo de maravilhas naturais, precisamos estar obrigatoriamente com a imaginação em evidência para que posssamos senti-la na exata proporção de sua majestade e beleza.
A imaginação talvez seja o dom mais potente que nos foi ofertado porque abre um caminho de esperanças e alegrias incomensuráveis quando a usamos de maneira adequada. Uma estrada de extremo sucesso rumo às insondáveis peculiaridades que poderemos entrever nesse universo, no nosso interior inexplorado na maioria das vezes e nas profundas camadas do inconsciente que grita para se libertar das censuras que o comprimem. E teremos capacidade de caminhar com mais prazer, sucesso e menos contundido por um mundo carente de imagens admiráveis e fecundas.
Vânia Moreira Diniz