Em certas oportunidades passei por momentos difíceis em que a dor fazia com que pensasse que a vida era complicada e que os dias se estenderiam com lentidão e tristeza. Na infância não compreendemos o porquê de certos acontecimentos. Na verdade, os desígnios de Deus nem sempre são fáceis de entender em momento algum. Mas com o tempo conseguimos colocar as alegrias e os prazeres que se nos apresentam de uma maneira intensa a ponto de sentir como eles são mais profundos do que qualquer aflição.
E são justamente as pequenas satisfações que nos dão a certeza de que queremos viver intensa e completamente: É o sentimento de vida, o aparecimento de uma alegria, a sensibilidade ao descobrirmos qualidades inexploradas em alguém que amamos, a vivência de um conhecimento que nos empolgou, o encontro com uma pessoa que não víamos há muito tempo, um sentimento nascente de qualquer categoria, uma amizade que se inicia, o prazer de presenciar a evolução de uma criança, a emoção de apreciar um deficiente que progride e pode viver uma vida normal, a realização de ajudar alguém que naquele instante estava carente ou infeliz é que fazem dessa existência um paraíso de risos e lágrimas do qual não queremos sair.
E as surpresas que surgem e por pouco paralisam nossas batidas cardíacas a ponto dessa satisfação ser tão intrínseca que quase paramos de respirar de tanta felicidade? E o que dizer da falta de alguém cuja saudade parece irremediável e conseguimos finalmente abraçá-la?
Essa vida é realmente um vale. Que poderá ser de lágrimas ou de risos. Mas, sem dúvida nenhuma podemos ajudar com nossa força e pensamento positivo o lugar em que ficaremos. Em que estado de espírito vamos caminhar e se esses passos serão agradáveis ou lastimosos. Cansativos ou prazerosos.
Evidentemente que teremos nossos dias menos vibrantes, momentos em que a depressão parece querer nos vencer e que nos perguntamos impotentes porque nascemos. Mas isso é apenas uma fraqueza passageira da qual não podemos fugir porque somos humanos.
No caminho da minha vida tenho encontrado pessoas maravilhosas em muito maior escala do que algumas que nos parecem sempre amargas e que nunca estão dispostas a serem amigas. Assim mesmo devemos perguntar a razão dessas inclinações. Quem sabe não conseguiram compreender e superar seus próprios traumas nem tiveram quem os ajudasse?
Isso me faz lembrar com uma nitidez absoluta alguém especial. Entre os muitos que conheci. E ele sempre me dizia como Mestre que era de doutrina e sentimentos o quão maravilhoso era viver.
Um dia intrigada com tanta certeza de tranquilidade eu lhe perguntei:
-E os momentos tão amargos? Que faremos com ele?
-Viva-os, viva-os intensamente para que possa entender quando a alegria se aproximar. Não há chuva sem sol. Calor sem frio. E jamais encontrará alegria se não souber sentir e ser capaz de ultrapassar os dias negativos de sua vida. Tudo é vida. E viver é a coisa mais importante. Sem ela nem seria necessário aprendermos esse tipo de filosofia construtiva.
Nunca esquecerei essa lição de um homem que eu amava profundamente como meu próprio pai, transbordante de sabedoria e bondade, mas que absorvia intrinsecamente o valor da vida e seus componentes. E em momento algum abriu mão dessa experiência de positividade.
Nos dias de recolhimento d’alma quando tudo parece negro e sem valor recordo-me também de uma educadora, que foi minha professora durante muitos anos e que me dizia a sorrir deixando à mostra seus belos e brancos dentes:
_Como distinguiria quando recebesse uma notícia maravilhosa ou quisesse viver seus momentos de prazer se ignorasse a normalidade e os extremos?
Costumava olhá-la com carinho indescritível porque foi aí que aprendi que em todos os acontecimentos menos amenos ou dolorosos devemos chorar, sim, mas enxugar as lágrimas e continuar procurando tirar disso um ensinamento. De cada ocorrência não esperada! E ela completou seu raciocínio:
– Quando estiver feliz, saberá o valor incomensurável dos contrastes que vão deixar que você reconheça as fascinantes coisas que temos a usufruir. E que sem ter lidado com a outra margem de qualquer sentimento seria impossível distinguir. E esses momentos serão certamente mais intensos depois de uma dor.
Não respondi. Abracei-a calada e comovida. O que poderia dizer que não se tornasse demasiadamente prosaico?
Vânia Moreira Diniz