Gostaria de compreender mais o egoísmo. E entender porque somos tanto e tão profundamente apegados a ele. Não poderíamos ser felizes se não fossem as outras pessoas e se fizéssemos um mundo à parte. Acho que morreríamos de tédio, desconforto e tristeza. A vida seria impossível. Entretanto, e mesmo dependendo um dos outros para nos realizarmos no sentido amplo da palavra e “viver” em sua expressão literal, somos dominados pelo amor desmedido a nós mesmos.
Analisando friamente essa sensação poderosa, gigante e dominadora que é capaz de fazer com que uma pessoa presencie com indiferença o sofrimento ou a desdita de seu semelhante ou não se sensibilize com suas alegrias e vitórias, é realmente incompreensível. À medida que o tempo passa, a evolução do homem se torna realmente vasta e o conforto mais fácil de alcançar, o egoísmo se acerca como um senhor dominador e indestrutível.
Hoje as pessoas raramente se reúnem e eu me lembro quando era pequena, o movimento intenso na casa de meus pais sempre com visitas e como havia um congraçamento e intercâmbio de amizade entre eles. Tinham necessidade de estar com umas com as outras e participar de suas alegrias ou tristezas. Claro que os sentimentos não mudaram e o ser humano é intrinsecamente o mesmo. Houve, entretanto uma diversificação de valores e modo de interpretação. Todos se distanciaram embora sem dúvida os meios de comunicação tenham facilitado outra espécie de aproximação.
A luta pela sobrevivência, a dificuldade de emprego, o desenvolvimento das cidades, as estradas que se abriram promovendo e incrementando o progresso, a tecnologia que substituiu a mão de obra e a disputa das pessoas nessa luta pelo poder, que toma nuances mais assustadoras, intensificou e facilitou o império do egoísmo. Que se estendeu em garras afiadas e provocantes.
O egoísmo hoje prevalece de uma maneira tão requintada e absorvente, que as pessoas não reparam nem na existência dele e menos ainda que é sua vítima. E que quanto mais vive seu próprio mundo, pensando somente em suas necessidades individuais, mais se distancia da felicidade e da satisfação verdadeira.
Nas horas solitárias, em que os pensamentos flutuam e que a consciência se torna presente e não estamos no burburinho nem desfrutando nenhum prazer muitas vezes passageiro, que nos alheia da realidade, poderemos sentir essa insatisfação, na maioria das vezes, fruto do egoísmo.
Creio que não sabemos mais amar no sentido exato da palavra. A luta pelo poder e pelo dinheiro toma proporções assustadoras, os interesses são puramente egoístas e com isso a miséria aumenta facilitando a prática da violência e exterminando sentimentos nobres e prazerosos.
Infelizmente o espectro pavoroso do egoísmo nos ronda como um dragão perigoso, e o mais triste é que nos aproximamos a passos largos em direção a um precipício doloroso e letal.
Vânia Moreira Diniz