Janeiro nunca me fascinou! Não sei por que sentia uma estranha nostalgia. E assim como outubro me enche de expectativas e magia, o primeiro mês do ano me entorpece. Como se eu não tivesse dentro de mim a mesma expectativa ou ele me afastasse das alegrias interiores com o mesmo brilhantismo e de uma maneira absolutamente presumível mas incoerente.
Costumava sentir-me como se estivesse num túnel de proporções gigantescas e minha imaginação ia galgando aquele espaço como se estivesse asfixiada e o oxigênio não chegasse até lá. E isso talvez porque via muita escuridão num tempo comprido que me mostravam 12 meses pela frente inexplorados, mas desconhecidos e estranhos.
Esse ano foi muito pior e admirando o esplêndido panorama de Brasília, cujo céu parece mais baixo do que em qualquer outro lugar, coisa que sempre me impressionou e fascinou, dessa vez me deu vontade de correr para minha terra e ficar ali recebendo os fluidos do lugar onde nasci.
A primeira vez que vim à Brasília e vim de carro, o tempo todo me deu a impressão de que o horizonte se encontrava com o céu que estava tão baixo, dando-me a ilusão que eu podia tocá-lo como se pudéssemos alcançar a linha dourada do pôr do sol.
Não sei em que caminho estou, não sei se tudo será mais promissor em torno dos meus sonhos ou se é preferível deixar de sonhar como se pudéssemos eliminar algo que faz parte de nossa individualidade. Por vezes quero me esconder de mim mesma, de minhas ilusões, imaginação, tudo aquilo que constitui a subjetividade de nosso ser.
Entretanto estou enclausurada pelos meus devaneios mais profundos, precisando buscá-los, senti-los, confirmá-los e a um mesmo tempo, descrente e com pressa que todos se realizem. Eu me encontro a uma distância razoável de mim mesma. E procuro fugir de tudo aquilo que possa construir algo irrealizável.
Sento-me aqui, olhando para o firmamento, nesse mês de janeiro, escuro, chuvoso, tão sem luz, mas que nos conduz ao um ano inteiro de esperanças. E então penso em todas as formas de sentimentos contrastantes e nas pessoas que por um motivo qualquer são deficientes. E penso que pior que a deficiência física é essa do sentimento, da alma presa entre mil ardis incontestáveis.
Seria muito mais fácil que eu desistisse tudo e conformadamente esperasse pelo que há de vir. Simplesmente! Talvez com ecos atormentando os sonhos mais profundos! Mas jamais farei isso. Posso perder, não estou livre de cair ou descer a escala do túnel que horroriza ou assombra.Mesmo assim não desistirei! Não tenho medo! Nem de morrer e muito menos de viver. Lá dentro de mim minhas raízes mais profundas perguntam se vou continuar ou se devem deixar de ser nutridas e eu lhes digo: Continuemos até quando for possível e o que quero dizer é; continuemos até à morte e depois dela, sempre, porque as energias continuarão eternamente.Continuemos por toda a eternidade! E continuemos malgrado até as mais profundas derrotas. Tenho que levantar quando cair, rir quando chorar, alegrar-me quando sofrer, compreender quando for injustiçada, saber discernir quando for injusta e malgrado todas as revelias continuar sempre e inexoravelmente.
Conteúdo atualizado pela equipe Essenciar