Ciganinha estava sentada há muito tempo escrevendo. Ela parecia esquecer o mundo quando pegava a caneta e descrevia o que sentia, o que sonhava, o que a fazia triste ou alegre e contava histórias tiradas da sua imaginação privilegiada.
Não entendia como mas parece que alguma coisa lhe falava, uma voz, figuras que enxergava e se viu finalmente num lugar amplo e cheio de flores parecendo um bosque.
Seus olhos arregalados fixavam sem acreditar aquele imenso lugar e parecia um paraíso pela beleza impressionante.
E mais para frente uma lagoa com cisnes tão brancos reunidos, ela queria gritar para entender se era real e não conseguia , suas mãos estavam de repente muito moles, seus corpinho se embalava a um ritmo suave a delicado, e ela agradecia estar num lugar de tamanha beleza.
Como chegara até ali, ela não sabia, e se perguntava se não era habitado. Não sentia fome nem sede, e parecia algo encantado.Mas iria ficar sozinha naquele lugar tão gracioso, completamente maravilhoso? Compreendeu então que nenhum encanto valia o contato com as pessoas, as brincadeiras, os gritos dos amigos e dos irmãos, a agitação das ruas, a animação das pessoas reunidas.
Foi se aproximando da lagoa e agachou-se para ver os cisnes que voaram indo para a água enquanto ela distraída olhava aquele recanto da natureza.
Estava tão longe que não vira um anãozinho que se aproximava balanceando o corpo pesado e pequeno, mas com um rosto que lembrava as gravuras de uma história que lera há pouco tempo
Quando ele falou sua voz era rouca mas ela se sentiu feliz de escutar o som confortante
-Ciganinha, o que faz aqui?
-Não sei , estava escrevendo e vim parar nesse lugar. Quem é você e como sabe meu nome?
-Sou apenas um anão encantado , saí de sua história e vim alegrar seu dia e agradecer seu pensamento.
-O que você quer dizer?
-Quero dizer que foi você que me inventou, criou a minha imagem e agora vou encantar muitas crianças iguais a você.
-Quer dizer que sou uma escritora? De verdade? Que invento figuras e personagens?
-Exatamente. De verdade! Só tem que acreditar em você mesma. Criou esse lugar e tornou-a real para muitas crianças também.
Ciganinha delirou sentindo no ar um aroma de flores, um perfume gostoso que a deixava inebriada e viu então alguns meninos e meninas que corriam em sua direção, perguntando se ela era a princesa daquele bosque.
Enquanto sorria, olhando o anãozinho que se distanciou, sentiu-se orgulhosa de ser hoje uma escritora que fizera tantas crianças lhe procurarem. Rodopiando como fazia com seus patins convidava os outros a brincarem com ela alegremente e finalmente apresentou o seu amigo. Quando todos estavam em harmonia, sentiu a babá que lhe criara se aproximando segurando seu braço e perguntando sorrindo e admirada
-O que é Ciganinha que está fazendo parada com essa caneta? Não vai escrever? Porque seus olhos estão assim brilhando tanto?
-Oh mãequina, acabei de ver minha história e pude sentir tudo que escrevi. Conversei com meus personagens. Não acredita? E enquanto mãequina se aproximava para ver se a garota estava com febre ela saiu pulando, dançando e correndo em direção ao quintal.
Tinha se tornado realmente a pequena escritora que seu avô falava…
Vânia Moreira Diniz