Esta noite revivi nossa amizade num redemoinho de lembranças, saudades e sonho.
Num recordar intenso e ameno a um só tempo.
Um mar imenso de amor e gratidão me invadiu durante toda noite. Um reviver incrivelmente mágico.
Lembrei-me com detalhes daquela mulher que mais parecia uma criança abandonada, no momento de nosso encontro. Eu parecia uma planta com galhos espalhados por toda parte e algumas flores que não enfeitavam nada. Um jardim sem jardineiro, um fardo enorme carregado aos ombros sem saber do conteúdo, uma jornada de tropeços por causa deste fardo.
Eu estava deslumbrada, numa experiência de Alice no país das maravilhas.
Havia transposto o umbral, todas as portas me foram abertas, eu parecia uma menina em montanha russa, não sabia se chorava ou se sorria, precisava viver, mas antes precisava entregar meu fardo a alguém que pudesse direcionar a carga ao destino certo.
E foi numa mensagem cibernética e curta que você pousou em meu caminho como um anjo bom, uma fada madrinha, a Mestra, o jardineiro fiel.
Nunca mais fui a mesma.
Você foi drenando a represa de versos que havia dentro de mim. Abriu portas, janelas e caminhos. Clareou a minha estrada e iluminou a minha fonte.
Ensinou-me a milhas e milhas de distância, os segredos de compor.
Foi amiga, confidente, irmã, mestra e companheira.
Segurou na minha mão e disse:
Vamos.
E eu fui.
Esta noite em sonho, viajei de novo esta caminhada que fiz sob seus cuidados. Cada broto que surgia de meu imenso e descontrolado pé de feijão, você cuidadosamente sábia, foi arranjando em harmonia para que florisse com beleza.
Foi a paisagista de minhas poesias.
A arquiteta de minha obra. A MESTRA AMADA.
Uma onda aconchegante de gratidão, ternura e paz invadiu minha alma e me senti integrada ao seu mundo humanista, acolhedor e pacífico.
A drenagem foi perfeita. O jardim floriu. Ganhei visibilidade e hoje sou feliz.
Agradeço tudo ao dia em que a vida fez cruzar as nossas linhas. Vânia Moreira Diniz em Brasília, e, eu em Badajoz, num dos momentos em que Deus abre o escrínio e derrama toda sorte de benção sobre uma alma vivente.
Tive vontade de pegar meu carro e sair, estrada a fora, até chegar onde você está, lhe dar um abraço demorado e lhe dizer do quanto sou grata por tudo, mas lembrei-me que daquele dia para hoje, já se foram 20 anos e nem sou mais aquela intrépida mulher capaz de atravessar portais mágicos, fossos de Alice ou asinhas de Sininho e sair por aí desbravando estradas. Preferi viajar desta maneira. A que você me ensinou. Escrevendo.
Autora: Ridamar Batista
Carta da Escritora Ridamar Batista para Vânia Moreira Diniz