“(…) Mas a noite é nua, e, nua na noite, palpitam teus mundos e os mundos da noite (…) brilha toda a tua lira abdominal. Teus seios exíguos – como na rijeza do tronco robusto dois frutos pequenos – brilham. Ah teus seios! Teus duros mamilos! Teu dorso! Teus flancos! Ah, tuas espáduas! (…) Baixo até o mais fundo de teu ser, lá onde me sorri tua alma, nua, nua, nua”. (Manuel Bandeira, Nu).
Luiz Alberto Machado
Para Vânia Moreira Diniz
Esta canção vem de longe, muito longe lá onde amanhece o leste carregado da missão de Verne e do espetáculo de Wakeman.
Esta canção vem de longe para ser mulher a se insinuar e se refugia nua em mim a me matar com graça no clarão do riso de formosa princesa, a mais linda entre as lindas, com o fogo do beijo de divina beldade musa de todas as minhas canções.
Esta canção, falo nela bela pelo tobogã da vala equidistante entre Natal e Porto Alegre na atlântica ondulação maravilhosa do prazer: a vértebra que serpenteia como a luz para a noite e o sol para o dia.
Esta canção é toda festa no prólogo inflamado de segunda pra terça quando chego pidão porque carece jogado pela lombada do Oiapoque ao Chuí do seu jeito de engatinhar nua ao meu redor.
Esta canção é só armadilha de terça pra quarta quando meu relho é pontaria exata no lombo de tigela boa da cauda do cometa onde vou desenhar a poesia do eterno coito presente em todas as ânsias, marcante em todas as expectativas.
Esta canção é só captura de quarta pra quinta quando o meu anzol fisga sua carne fresca e vou fundo sem cessar fogo para me lavar com nossa lama, escorrendo pela formosura do seu agoniado colo erguido quebrando tudo no peito com chamegos safados no incomparável remanso da sua inevitável sedução.
Esta canção é só luta corporal de quinta pra sexta quando na sua esfíngica tentação de devoradora devorada, se estraçalha com minha língua no seu fogareiro de divino manjar, joia da mais alta valia entre as pernas, retrato falado do milagre e da maravilha.
Esta canção é só tempestade voluptuosa de sexta pra sábado no nosso devaneio hípico e eu alazão fogoso devasso comendo no centro incapaz de escapar da égua no cio e à maneira insensata principia e brilha maior reluzência porque é impossível poupar do veneno que inebria e eu sou todo embalado pelo cheiro e sabor do seu sexo.
Esta canção é só recomeço puxando prima e bordão de sábado pra domingo até que chego nas nuvens capitulando às minhas investidas de segunda pra terça e ela já quarta se fazendo manha porque quinta se abre em flor que me cabe inteiro na sexta e eu empurro no sábado de novo e peço bis no domingo, e pedimos bis um ao outro no dia seguinte, toda minha e todo seu até presentear todos os dias com os acordes finais pirotécnicos fatais do último movimento sinfônico do nosso dilúvio de prazeres.
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