Há alguns anos, estava longe da casa que fora criada. Não sabia o que meu coração sentia. Eu estava cercada, numa reunião ruidosa e brilhante, mas meu coração estava longe dali. Minha fé no mundo como sempre era muito grande, mas sentia saudades de tudo que se fora.
Era dia de Natal e sei que só me sentiria feliz se sentisse meu próprio coração e seguisse suas inclinações. O dia era claro, o céu azul com pequenas nuvens que se incorporavam à densidade que eu podia enxergar.
Havia um ar de felicidade em todos os rostos e a figura cheia de magia do meu papai-noel interior que se desfazia. Tentava chamá-la para a claridade exterior, tirá-lo do meu coração, mas não conseguia. Queria vê-lo ali à luz daquela radiosa manhã, onde todas as crianças se divertiam com seus brinquedos novos.
E eu queria talvez, voltar aos meus oito anos fugir para outras paragens em meus sonhos e em minha fantasia. Entender que todas as imagens tão nítidas eram verdadeiras. Não compreendi até hoje se tudo que eu vivia era verdade ou fruto de meu coração que ansiava por me entender, por me conhecer verdadeiramente.
Não desejava retroceder em nada, mas sim para sempre prosseguir. Exatamente como sinto agora, com a diferença que naquela época, porque era apenas uma adolescente, consegui enxergar na claridade, densas e etéreas visões do que seria a estrada da minha vida. Com seus obstáculos, quedas, vitórias e tropeços.
Agora visualizo a certeza de tudo que vi um dia, acrescentando a minha fé pelo que me cerca. Não importam os momentos difíceis e nem mesmo as horas de descrença, o que realmente conta é esse instante em que me recolho e consigo segurar minha alma nas mãos, falar com ela e sorrir-lhe para que possa estar em perfeita sincronia com sentimentos, alegrias, convivência uniforme e intensa com meus irmãos de caminhada.
Para que sinta essa energia que se desprende do universo, a um só tempo serena e magnífica, numa opoteose de cores, sensações e beleza. E para que consiga crer sempre, ter forças para não tropeçar e acredite no meu próprio sorriso interior.
Vânia Moreira Diniz
