Que garota mais linda…
Não aquela beleza clássica, de rostinho angelical, semblante ingênuo, plástica estonteante…
Era um verdadeiro dínamo: 1,59m, cabelão negro e crespo, rosto alvo, trazendo um sorrisão aberto; a felicidade estampada naquele corpinho saltitante e irrequieto. Sempre se destacava das colegas de escola, exatamente, por aquele ar de frescor, de estar de bem com a vida, de gostar de acontecer…
Eu passava por ali todas as manhãs a caminho do trabalho e, invariavelmente, lá estava aquele grupinho em rebuliço, com sainha azul marinho plissada e blusa branca; sapatinho característico de colegial. Não conseguia resistir a olhá-las, mesmo porque o burburinho emitido e os arrulhos festivos, sempre chamavam minha atenção. Acredito que fosse simples presunção, porém, notava uma malícia gostosa e juvenil no rostinho daquela menina; quando desviava o olhar em minha direção. Assim se passaram dias, semanas, meses, nessa rotina interessante. Eu até já aguardava, ansioso, o momento de passar naquela esquina e vê-las; algumas vezes até tentado a oferecer carona, para saber aonde estudavam, algo assim.
Mas, eis que, de repente, alguma coisa começou a mudar: aquele compromisso matinal da escola, passou a rarear… Pra onde foram aquelas meninas?!? Será que mudaram de ponto?!? Não era tempo de férias; não tinha recesso escolar… O que poderia ser?!? Aquilo começou a me intrigar…
Um certo dia eu a vi, na mesma esquina… Cenário totalmente diferente: estava sozinha, rostinho triste; o cabelo opaco; sem aquele jeitinho brejeiro…. Pensei que, talvez, não estivesse num bom dia; afinal, acontece. Só que não… A cena se repetiu em dias espaçados: ela sempre sozinha, sem aquele arzinho atrevido e brejeiro que eu tanto admirava; seu olhar parecia perdido em algum ponto incerto… definitivamente, não era a mesma garota, que tanto me chamara a atenção!!!
Aí sim, comecei a conjeturar sobre o que poderia ter acontecido para provocar semelhante transformação nos hábitos e ações de uma pessoa tão vibrante e intensa. Vontade de parar e perguntar; sentia que ela precisava ser auxiliada de alguma forma. Mas, como poderia me aproximar de uma menina que sequer conhecia – deveria ter uns 13, 15 anos – não sabia quem eram seus pais; o que pensariam de mim; como ela reagiria a uma abordagem; sabe-se lá que trauma havia sofrido…
Algum tempo depois eu a vi caminhando, sozinha, num local aonde forçosamente temos de passar para chegarmos a outras regiões da cidade; sendo, porém, um lugar pouco recomendável pra se estar sozinho e, principalmente, a pé. Notei que ela parecia assustada e insegura, naquele local inóspito. Contudo, não tinha como fazer uma abordagem, até porque ela caminhava cabisbaixo; com passos ligeiro e sem olhar para os lados. Creio tê-la visto mais uma ou duas vezes naquela vizinhança, sendo que depois, perdi-a de vista; definitivamente.
Ainda hoje penso naquela menina tão graciosa, tão cheia de vida e entusiasmo, que se perdeu num imenso e inescrutável mistério; e ainda me pergunto:
Onde estará e o que, realmente ocorreu, com aquela linda menina da esquina?!?
Cafiero Filho.
19/05/2022.
Respostas de 3
Impactante… Risiss.
Senti enorme emoção ao deparar com esse texto em seu portal, amiga Vânia. Sensação de estar vendo-o pela primeira vez: mais encorpado, distinto, senhoril…
Excelente apresentação!!!
Lembrou-me do prazer que tive ao participar de seu antigo jornal.
Gratidão!!!
Gostei do conto! Deixa o leitor intrigado e aguça a imaginação.
Gratissimo pelo comentario, Vânia. É, realmente, estimulante ter um retorno tão simpático. Procurarei empenhar- me para escrever com mais regularidade; pois, estou bastante preguiçoso… Risiss.