
Este momento me desafia. Cheguei a uma conclusão pungente: a aflição se sobressai a qualquer contentamento. Vivi instantes de riso, lazer e êxtase, mas estes se dissipam sem que compreendamos sua essência.
Encontro-me em recolhimento, contemplativa, questionando o Criador sobre os períodos que paralisam o coração, onde a respiração se torna um mero acaso, embora responsável por cada experiência.
Júbilo e deleite são sentimentos distintos. Podemos, sim, ser felizes intrinsecamente, mas a penúria nos domina. Possuo tudo que contribui para a serenidade, mas a melancolia é cortante e impede a alma de sentir as vibrações mais intensas do ser. A estabilidade da felicidade nos permite sobreviver, enquanto o entusiasmo da alegria se assemelha a um dia de verão, com boas notícias e um paraíso ao redor.
A felicidade se baseia em elementos básicos, e o contentamento nos extasia, levando a outras dimensões.
No entanto, neste ciclo da minha vida, a dor é tão intensa que questiono a presença da felicidade. Perco-me em ondas de depressão, com pensamentos recorrentes que evitamos enfrentar.
Tenho uma vida satisfatória, mas a essência me falta. Mesmo com orações e fé, sou arrastada para a descrença, o desânimo e a incredulidade. Não se trata da depressão comum, mas de algo que me desestabiliza. Cumpro minhas obrigações automaticamente, aguardando algo que alivie o torpor.
É o que vivo agora, neste instante cinzento, onde as cores da natureza se esvaem. Preciso me recolher e extirpar os fragmentos de sofrimento que me assolam. Confesso que nunca senti essa mistura de irrelevância e abatimento.
Neste momento, não almejo nada, apenas o recolhimento.
Vânia Moreira Diniz
Conteúdo atualizado pela equipe Essenciar