Falar em Saudade é rememorar momentos que já se foram deixando-nos um gosto salpicado de ternura. E vendo a Cris, minha irmã, saudosa, cantando seus sentimentos em tão belo poema, acompanho-a nesse ritmo que me leva aos tempos de nossa infância.
Os doces momentos surpreendentes em expectativa, uma característica fascinante de nosso pai, a algazarra tão própria de uma casa onde são criados muitos irmãos, o movimento da rua movimentada de Copacabana, as brigas infantis, o aprendizado, as conversas em torno da mesa festejada, a alegria das reuniões frequentes, e o calor de cada coração reunido.
A saudade então bate de uma maneira quase insustentável e fico pensando em cada rosto saudoso, longe pela distância física e geográfica e cada um com seu próprio destino. Isso sem falar das perdas irremediáveis pelo caminho.
Sim, muitos chegaram também. Com sua esperança, luz, sonhos carregando talvez o mesmo tipo de pensamento que nós tínhamos, de crescer o mais depressa possível. E nesse passo célere que queríamos empreender carregávamos nossos ideais que era o estandarte mais forte quando divisávamos o futuro.
Muitas vezes, não compreendíamos por que tudo era tão importante naquele momento. Decisivo e profundo, enormemente rico em suas estruturas e por vezes dolorosamente incompreensível em sofrimentos pungentes e marcantes! Mas tudo fazia parte de uma estrutura de tempo e de vivência que não voltaria jamais.
Recordo, dos risos e das lágrimas tão intensos quanto absorventes, e que naquele momento não sabíamos o verdadeiro e intrínseco valor e o quanto iríamos sentir falta de cada instante, que experimentávamos sem entender sua devastadora proporção.
Hoje a saudade nos visita impiedosa, e divisamos o panorama além, com outros olhos, mas contendo o brilho que conservamos, ante o quadro que foi duradouro e valoroso. Tivemos, é certo, nosso momento de conflitos, incompreensões, inseguranças, tristezas e dores latejantes, mas fazia parte de uma paisagem natural, dentro do escorrer da própria vida.
No caminhar progressivo, dessa estrada transbordante de acontecimentos inesperados, aspiramos que essa saudade seja o doce elixir de nossas reminiscências.
As lembranças predispõem às lágrimas, porém nos trazem sorrisos que permanecerão sempre indeléveis em nossos lábios, porque são frutos de sentimentos que suavizarão os dias difíceis incorporando-se à felicidade ou às alegrias, que fizerem parte da riqueza interior usufruídas a cada dia.
Saudade, de ontem, de hoje e de daqui a pouco, entretanto uma esperança para vivermos o agora, com mais intensidade, confiança e fé.
Vânia Moreira Diniz