Sei que não é mais nem novidade ou coisa estranha uma violência. Posso imaginar que todos estejam cansados de ouvir diariamente notícias contundentes.
Na verdade, cada impacto desse é como uma ferida que se abre não só nas pessoas que sofrem a agressão, mas em quem transmite e naqueles que ouvem, mesmo que seja algo corriqueiro. E eu me pergunto se a violência pode ser corriqueira!
Hoje ao encontrar-me com a secretária da minha vizinha, notei que Joana estava calada como habitualmente não consegue ser. Estranhei e notei claramente que estava tensa e amedrontada. Perguntei-lhe o que tinha acontecido e ela então me contou sobre o assalto que tinha sofrido num ônibus e o pânico pelo qual passou. Seus olhos sempre tão brilhantes estavam ofuscados pelo susto, eu pensava enquanto conversava com ela até onde chegaríamos, nesse mundo devastador, em que a agressividade imperava de uma maneira cruel. É quase incontrolável o pânico que domina as pessoas e sentimos isso na maneira habitual de procedermos frente a qualquer fato ou pessoa diferente que nos acerque.
Muito triste o caminho que a vida está nos levando, a desesperança e medo que presenciamos em todos os lugares que frequentamos, a distância, falta de comunicação e desconfiança que impera como um mal incurável.
Inexiste realmente calor nas pessoas ao se cruzarem, ao entrarem em qualquer lugar desconhecido. Carecemos do aquecimento natural dos sorrisos, da expressão suave e despreocupada e das fisionomias a inspirarem simpatia e felicidade.
Isso que está acontecendo nos tempos atuais nos leva a um sentimento de tristeza pela falta de estímulo que contamina, como se fosse uma epidemia inconsciente e subjetiva, mas dolorosamente presente e difícil de exterminar.
Sentimos a distância que as pessoas mantêm e as grades que separam as casas e os prédios da rua como se fôssemos eternos prisioneiros à espera desesperada de uma sentença de liberdade e de descontração.
Não sei como poderá ser resolvido esse problema do medo na população que se sente atemorizada, só compreendo que não podemos continuar assim impedidos de viver, de olhar, sorrir e encarar nosso próximo que passa pela mesma síndrome do Pânico da violência.
Não sei a forma de reestruturar uma sociedade já tão atingida, sofrida que assiste no dia a dia tantas cenas apavorantes e que parece anestesiada para a próxima notícia já esperada. Tenho certeza, no entanto que assim como eu todos querem viver e não se vive com a sombra do vandalismo à espreita em cada esquina.
Queremos viver, usufruir, sentir, amar, vibrar em cada momento, e no espaço que nos é concedido nesse planeta e que está dia a dia se fechando como um enorme círculo a nos tirar qualquer liberdade a que temos direito.
Queremos viver, e para isso temos que lutar, independente das forças opostas que nos oprimem, da violência que esmaga e de cada acontecimento que nos deixa sempre pasmos de revolta e dor.
Queremos viver!
Vânia Moreira Diniz