Nesse Domingo acordei imaginando que estava ouvindo a uma certa distância as músicas de Toquinho como fazia há muitos anos. Tudo me parecia extremamente doce enquanto o cheiro do café exalava convidando-me a sair da cama. O silêncio era profundo, levando-se em conta, que tenho um temperamento agitado e pensei como podia sentir quietude nessa rua de Copacabana.
Meus pensamentos fervilhavam enquanto pensava em me arrumar o mais rápido possível, enrolar uma toalha rápida em volta do biquíni e tomar o rumo da praia. Lá, tinha certeza, qualquer enigma que me circundasse seria resolvido enquanto conversasse com o sábio mar. E enquanto as pessoas distraídas, curtissem o sol maravilhoso, eu iria bem devagarzinho para a sentar na areia, na borda das águas, para que as ondas me cobrissem cada vez que avançassem mais altas.
Não conseguia desvencilhar-me do meu subconsciente que cada vez mais, naquele dia, tinha uma estranha supremacia sobre meu eu lúcido. E não me lembrei, que estávamos vivendo em épocas conturbadas.
Tudo que via à minha volta, enquanto ainda deitada, se aprofundava, era um mundo diferente com ruas, onde não existiam mendigos, e as pessoas entre as quais eu mesma, se preocupavam com seus semelhantes.
Enquanto através do pensamento, continuava meu diálogo com o oceano verde que tanto amo, e entrava passo a passo em suas águas geladas, desaparecia do planeta tudo que pudesse significar de maldade ou astúcia psicopata. Contando como sempre ao mar meus segredos, sem nem ao menos atinar o que se passava à minha volta, pude com simplicidade ouvir a resposta confusa, que com o barulho do vento suave parecia ainda mais obscura e impressionantemente enigmática.
No momento seguinte, emergia docemente em sua profundidade para acordar um minuto depois revigorada, mas consciente enquanto o barulho do interfone me deixava meio tonta entre sonhos, sono e desejo de momentos bons. Levantei-me devagar, aturdida, sem nenhuma recordação olfativa ou visual de bons tempos para ouvir a voz de uma pessoa que pedia alguma ajuda para voltar para casa.
Vânia Moreira Diniz