Falar de nós mesmos é muito difícil. Difícil e complicado. Porque tudo que dissermos parece muito parcial. Mesmo assim me arrisco para que saibam um pouco de mim. Nasci no Rio de Janeiro e fui criada em Copacabana, na Rua Barata Ribeiro.
Muito cedo compreendi que era difícil sair através daquele portão e tentar atravessar a rua cheia de carros, de um movimento intenso. Aquela rua significou para o resto de minha vida uma vibração permanente. Ela está aqui comigo a cada gesto que faço, vive nas recordações que guardo e está presente em cada minuto da minha vida.
Gostava muito, entretanto desde cedo, de permanecer no bairro carioca da Gávea onde se situava a movimentada casa de meu avô, que além de advogado e político era escritor. E aquele ambiente meio lúdico para mim, pois congraçava escritores e políticos, dava-me a impressão de mistério e de vida.Transitava com naturalidade entre aqueles adultos famosos e de meia idade que me olhavam com interesse. Isso fazia não só que eu insistisse, como provocava admoestações de meu avô quanto “a ficar com as outras crianças”.
Minha infância não seria a mesma se não existisse esse lugar encantado onde escrevi meus primeiros e infantis textos. Foi lá que desci ao fundo da minha alma para captar as impressões que seriam transformadas em palavras.
Quando aos sete anos comecei a escrever, sem conseguir dominar a vontade de fazê-lo, não assimilava que aquilo era mais que um desejo, era na verdade, uma necessidade intensa e intransponível. Debatia-me interiormente, entre esse vício literário e as outras obrigações inadiáveis.
Tal qual o alcoólatra que precisa da bebida para equilibrar-se e sofre da síndrome da abstinência quando ela lhe falta, sentia a angústia se apoderar de mim quando não podia transpor para o papel o que estava prestes a explodir. Compulsividade absoluta que eu procuro até hoje administrar. Escrever para mim é uma necessidade urgente e insubstituível. Como o oxigênio para a vida do organismo.
Meu avô e meu pai foram os maiores responsáveis pela minha vida literária, pois o incentivo deles, ensinamentos, amor às letras e o próprio exemplo do que escreviam me valeram horas de aprendizado fascinante e integralmente real.
Vânia Moreira Diniz