Vivi sempre com muito barulho. Fui criada no asfalto, em meio a carros velozes, caminhões fumacentos, buzinas estridentes, gritos alarmantes, pessoas discutindo em plena rua, alvoroço, bares e restaurantes lotados, um mundo apressado, conversas em voz alta e a multidão que pressentia até dentro de minha casa. Admirava-me quando alguém me dizia que gostava de ficar só. Achava que não era verdade e que estava fantasiando para contar algo diferente. Só que o tempo passa, a gente acumula fatos ocorridos, ouve histórias, presta atenção na seriedade das imagens, conhece a vida mais de perto e somos testemunhas de fatos ao longo de nosso caminho.
Hoje recebo com facilidade a solidão e ela me dá ensejo de realizar coisas que não conseguiria com muita gente à minha volta. Nessas horas, planejo a minha vida.
Amo criar, imaginar, deixar meu pensamento voar, ler muito e escrever o resultado do que penso, acho ou devo. Viver a vida, olhar a natureza maravilhosa que me fascina, fazer reflexões importantes, tentar discernir meus erros e tomar decisões que me façam uma pessoa melhor.
E então vejo como a solidão em certos dias me faz bem, até porque isso constitui uma vitória, já que fui criada com tanta gente me cercando. Atualmente posso dizer, com certeza, que gosto de minha própria companhia. E é um aprendizado realizado dia a dia, cada vez com mais persistência. Sei perfeitamente o que significa não está bem um dia e poder avaliar-me com mais consciência e integridade sem testemunhas que assistam minhas dores ou desejos mais íntimos. E poder então cultivar o que sempre foi motivo de alegria para mim: Deixar meu pensamento voar, sem ter que dizer a ninguém o que naquela hora estou sentindo e não desejo revelar. Realizo-me na solidão.
Vânia Moreira Diniz