Do meu pai eu não só recordo
Trago como se estivesse comigo,
E sempre que de manhã acordo,
Lá está aquele constante amigo.
Os mesmos olhos azuis intensos,
O olhar profundo e luminoso,
Muito expressivo terno e imenso,
Que entra dentro da alma misterioso.
Fico pensando no tempo decorrido,
Seus ensinamentos impressionantes,
E o devaneio torna-se concorrido,
Nessa fantasia de fatos fascinantes.
Minha memória circunda e para
Nas conversas tão vivas e atraentes,
Que fazia na infância o momento raro,
De entremeio e parcerias diferentes.
Mas vem acompanhado de horas magoadas,
Em que as conversas me suscitavam horror,
Nas noites escuras, chuvosas e ansiadas,
Que tudo parecia conduzir ao pavor.
Isso ficou na idade infantil do exagero,
Que produz fantasias mascaradas em ardor,
Detalhando com tão superlativo esmero
E esquecendo de incluir a nobreza do amor.
Amigo dos momentos inesquecíveis de dor,
Que era capaz de perdoar com singularidade,
Fixando-nos com os olhos de tão sugestiva cor,
E sorrindo com expressão de imensa raridade.
Hoje meu companheiro literal é a saudade,
Que vem e se aloja com tal familiaridade,
Parecendo até que ainda estou na cidade,
Que nos admirou juntos e com fidelidade.
Olhos Azuis que eu amo e não esqueço,
Nas minhas pupilas presentes em reflexos,
A iluminar minha vida e na verdade peço
Que perdure o terno sonho complexo.
Conteúdo atualizado pela equipe Essenciar