De Luiz Alberto Machado
Para Vânia Moreira Diniz
Ah, esse olhar que me chega tímido postigo e logo reverbera escancarada porta aberta fraternal para que eu seja mais que vasilha rasa na sua íntima ceia, reunindo os furores da noite e esborrando as ânsias das frestas na promessa do dia ensolarado.
Esse olhar que desnuda meu corpo, afaga terna e deliciosamente minha alma e me faz renascido a todo instante em que misantropo esbarro nas agonias da vida.
Esse olhar que vem com a magia de quem chega caleidoscópio lindo pelos corredores das minhas insatisfações, pelos arredores da minha solidão, pelos caminhos tortuosos das minhas teimosias, como clareira que alumia minha escuridão a derrubar muros, grades, fortalezas, arrancando algemas e segredos que me desordenam e se fincam para longe para que eu atinja os meus ideais nos confins de sua lonjura.
Esse olhar que se faz faroleiro mágico no mirante dos agoniados desejos que me atormentam para apontar qual bússola onde acende vida no seu estado de lua atávica e eu em plena temporada de caça dos mais úmidos sentimentos.
Esse olhar guardião do encanto imorredouro que me leva a ver e ouvir sua altiva perspectiva dissolvida na fricção de sua voz enternecida como conto de fada mais que real lançando labaredas concupiscentes sobre a minha latejante exacerbação.
Esse olhar que entra sem bater e é bem-vindo na surpresa para se deitar nua na poesia, improvisando falas, percorrendo sensações inauditas, pendurando estrelas nos contornos do corpo amanhecido pelas braçadas de céu e sonhos, até animar o colo morno do seu ventre de todos os gritos que pedem socorro no laço dos feitiços atrevidos iluminando minha obscenidade.
Ah esse olhar que é como toque de mãos trêmulas tateando a luxúria no beijo que é chama ardente na pele de rio caudaloso inundando o tempo e a fundura de mar de suas premências noturnas a misturar pernas, seios, sexo e boca de lua na carne nua que apetece lamber arrepiando os caminhos de suas vias tortuosas para desfrutar da saborosa iniciação de tudo que é seu.
Ah esse olhar tomado de traços maravilhosamente belos que ornam a terra dos meus anseios, fulguram no sabor que unta meu corpo e me fazem pronto para a vida.
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