Não me canso de falar sobre a leitura. Esse poderoso hábito foi exercido na casa de meus pais com tamanha persistência e louvor que aos sete anos parava encantada diante das vitrines das livrarias totalmente inebriada.
Posso fazer restrições a vários fatores que não me agradavam no modo com que meus pais encaravam a vida. Mas nesse teor meu encantamento ultrapassava tudo que eu hoje poderia imaginar.
Revejo as lindas coleções, cujo conteúdo fizeram o êxtase de minha imaginação infantil. As noites de serão também na casa de meus avós eram preenchidas com a meninada fazendo uma roda e ouvindo as dissertações que meu avô, escritor entusiasta e filósofo brilhante expunha com garbo e fascínio.
Na zona sul do Rio de janeiro onde ele morava no bairro da Gávea, hesitava por vezes entre as divertidas horas que passaria com minha turminha de amigos ou ouvindo os extraordinários relatos que fizeram as delícias de minha infância. Com ilustrações reais que me deixavam plena de exuberância e fascínio.
Lembro-me o que me seduziu na história pessoal do escritor A J. Cronin médico escocês que eu amava e unia dois dons extraordinárias: Escrever e clinicar. Salvar vidas através de seu conhecimento das reações e patologias físicas e transportar almas a uma vida saudável pelo enriquecimento de seus livros fantásticos e plenos.
Nenhum jovem que lesse “Sob a luz das Estrelas”, “Anos de Ternura”, “ Três Amores” e muitos outros romances desse autor poderia esquecê-lo. Ele sabia colocar no que escrevia o heroísmo da profissão que amava: A medicina. Eu sorvia em ansiedade suas histórias que faziam vibrar. E a SRA Leandro Dupré como sempre foi conhecida.
Escritora paulista de inegável conceito cujo livro mais conhecido ”Éramos Seis” me transportou para a vida que descrevia. Inúmeros trabalhos como “Angélica” “A casa do Ódio” e seu variadíssimo universo faziam-me admirar seu talento.
Isso sem falar em Jorge Amado, Graciliano Ramos, o meu querido e inesquecível Érico Veríssimo e tantos autores que desfilavam aos meus olhos brilhantes de curiosidade. Sem dúvida que tinha por Monteiro Lobato uma verdadeira fixação que conservo até hoje.
Leitura é a fantasia que presta sua homenagem à realidade. As duas se congraçam num pacto de harmonia e beleza verdadeiramente surpreendente. Envolvente e sábio.
Quando penso na riqueza que possuímos em nosso planeta, quando vejo os astros da literatura prontos para nos ofertar momentos de concentração misteriosa imagino que a leitura conduza ao êxtase do espírito assim como o orgasmo é o clímax dos corpos desejosos e em paixão.
Acredito que mais do que realizar uma campanha para a leitura, a criança hoje precisa é de livros interessantes disponíveis nas escolas públicas e autores que deem oportunidades a todas elas de experimentar esse fascínio.
Tenho convicção que a leitura seja além de fonte inesgotável de conhecimento e diversificação de vocabulário, um manancial maravilhoso de riqueza espiritual regado pelos escritores que sabem explorar com perícia suas próprias palavras enriquecedoras.
Vânia Moreira Diniz