Acordei com um múltiplo de emoções, sensibilizada, emotiva, mas quando me olhei no espelho, vi que era a mesma Vânia de sempre. Percebi que meus olhos estavam ainda úmidos de lágrimas que involuntariamente tinha vertido num sonho de Natal.
Meditei que ansiava por um minuto de silêncio, sozinha comigo mesma, ouvindo meus pensamentos, avaliando minhas ideias. E imaginei como eram necessários esses momentos, mas também profundamente egoístas.
Ponderei que prometera fazer algumas visitas, levar algumas cestas que eles esperavam com ansiedade e levava ainda pequenos presentes, apenas lembranças para algumas crianças. E precisava me apressar, senão a manhã iria embora.
Como sempre, desde a minha infância pensava como era duro imaginar a diversidade de situações no mundo e difícil aceitar a falar de dignidade para o ser humano quando enfrentavam a fome, o frio e a miséria.
Não imaginava que dessa vez estaria frágil para ver tanto sofrimento e encarar as cenas que muitas vezes já vira quando fazia as mesmas visitas. Dessa vez, porém, as lembranças de meu irmão que tinha morrido, me apertavam o coração perto desse Natal, mas não só isso: Muitas emoções que eu gostaria de extravasar a uma pessoa especial que estava longe.
Visitei algumas casas onde o sofrimento era sempre o ponto comum. E eu que procurava sempre me conter para não os tornar mais tristes dessa vez não segurei a emoção que se desprendia em garras afiadas.
Eles me olhavam com tanto carinho no meio daquela pobreza e sorriam com tanto desprendimento que a emoção reaparecia sempre mal me recuperava da anterior.
A tristeza maior, no entanto, foi quando entrei uma casa, (poderia chamar de casa aquela vão escuro e triste, tão indigna da grandeza de qualquer ser humano?), casebre, melhor dizendo onde morava uma família numerosa. Eu tinha ido uma vez lá, mas não conhecia todos. Automaticamente olhei para uma criança linda cujos olhos se fixaram em mim demoradamente enquanto eu também olhava aquele rostinho tão lindo de olhos enormes e profundos, verdes como esmeraldas contrastando com os cabelos maltratados.
E repentinamente pedi licença á jovem mãe mais parecendo uma garota, e me sentei quase desmaiando, assim me pareceu além de uma névoa nos olhos e uma fraqueza imensa. Não podia conceber aquela menininha ali tão linda, com roupas velhas e remendadas, o rosto abatido, as marquinhas brancas provocadas pelo sol extenuante na pele morena e aquele olhar maravilhoso como a pedir socorro.
Meu grito explodiu para dentro de meu coração enfraquecido emocionalmente e pensando enquanto sua mãe me sorria, o quanto eles me ensinavam cada dia mais a viver e saber entender os dons, a felicidade, a doçura da natureza, as afeições profundas. Ali, meus irmãos de caminhada me davam exemplos de coragem, amor pela vida, fortaleza e desprendimento.
Vânia Moreira Diniz