Tudo na vida é compensação. Nas alegrias, nas tristezas, na dor ou na constância do bem-estar. Ocorreu-me que há poucos dias tive uma tristeza que doeu muito meu coração. Machucou. E me perseguiu dias sem fim na saudade de alguém que se foi e que eu amava. Não que tenha passado. Mas hoje entrando em uma faculdade onde ia levar alguns trabalhos encontrei-me com uma amiga que não revia há anos. A emoção foi tão grande de vê-la ali olhando para mim como se me tivesse encontrado ontem, que fiquei parada durante alguns segundos para me recuperar. Fazia muitos anos que não a via! E tinha sido além de tudo minha colega de colégio desde pequena, na minha terra, Rio de Janeiro.
As recordações foram grandes e fortes e naquele momento achei que a vida era especial. Com suas compensações e surpresas que só o dia-a-dia nos proporciona. Com toda a sensibilidade que experimentamos nos acontecimentos e até com as decepções que aparecem vigorosas em nosso caminho.
Abraçamo-nos com força e durante algum tempo só pensamos naquela amizade tão grande, que nos fez tanta falta e nos momentos de saudade e de recordações juvenis. Depois foi a hora das efusões dos depoimentos de cada uma de nós sobre aquele período que não nos víamos até que lhe perguntei em detalhes pela sua família que eu tanto amava.
E ela me disse algo surpreendente:
– Ninguém a esquece. Mas Sérgio está concluindo um livro e imagina a quem é dedicado? Olhei-a recordando meu amigo de infância, irmão de Verinha e que fora sempre tão gentil e meigo comigo. E quase não acreditei quando ela me disse que a obra seria dedicada a mim. Insistentemente pensava nos nossos anos dourados em que tínhamos uma grande afinidade porque nós dois escrevíamos muito e ficávamos horas a trocar idéias e trabalhos, procurando opinião mútua.
-Ele iria lhe procurar breve. Seria uma surpresa, pois pretende fazer o lançamento também aqui em Brasília. Não para de falar sobre isso e a surpresa que lhe causaria. Mas não tive forças para me dominar. Olhando-a, Vânia não pensei em mais nada, senão em dar-lhe essa notícia. E fui profundamente egoísta!
Naturalmente eu não conseguia falar, mas queria transmitir-lhe que compreendia perfeitamente o que havia ocorrido. E que mais do que egoísmo tinha sido o carinho de me proporcionar uma alegria tão grande.
Lembrei-me então sorrindo que a doce e encantadora Verinha mesmo na infância gostava de comunicar as notícias boas em primeira mão, mas corria quando era algo triste a dizer. Meu sorriso então se intensificou e pude compreender que ela estava captando o meu pensamento. E terminamos nossa conversa, rindo entre lágrimas de alegria e doces lembranças. E com disposição de nunca mais passar tanto tempo sem nos ver.
Naquele momento, porém, o meu enternecimento era para o meu fiel companheiro de folguedos e de adolescência, que em meio à ausência não havia esquecido uma amizade tão forte e tão profundamente vivida.
Vânia Moreira Diniz