Estamos em época de fim de ano, perdão, amor, ternura, confraternização. Vejo as crianças que brincam ao redor das periferias das grandes cidades, sinto cada um deles, sem o pedido de Natal tradicional.
Sei da violência do Rio de Janeiro, cidade onde nasci e me criei absorvendo as delícias maravilhosas ao sentir seu encanto feiticeiro. Quando chegava à praia, na esquina de minha casa, costumava deitar-me na areia, fechar os olhos e conversar com o mar, em seu mistério sedutor.
Inúmeras vezes ele me compreendia por que fui batizada naquelas águas transformadoras. Conheci uma menina num dos natais que ainda morava na minha terra, que havia sido covardemente violentada quando tinha apenas seis anos, e ao me contar a sua história seu rosto bonito e corado estava umedecido de lágrimas, e o corpinho doía nas reminiscências tristes que me passava.
Não era uma menina pobre, mas daquele momento em diante, prometeu a si mesma que o que pudesse fazer pelas crianças que choravam ela tentaria minorar. Era uma promessa quase impossível de realizar, porque o número de pequenos era grande, principalmente os que passavam privações.
A pequenina me respondeu simplesmente que se “cada um ajudasse quem estava perto de si, era muito provável que a maioria fosse ajudada”
Muitas pessoas, principalmente da família lhe alertavam das dificuldades e afirmavam que isso era uma utopia.
Ela tinha tudo que a vida podia lhe oferecer, em termos materiais e não se conformava de ser apenas uma assistente no palco da vida. Seu coração nunca deixou de lhe atormentar pela angústia de saber que um ser humano poderia ser rude com outro ser humano, principalmente, uma criança. E batia todas as vezes que imaginava o mau trato que davam à pobreza no caminho da vida. E acima de tudo nunca iria esquecer a supremacia do mais forte que presenciara e que lhe deixara transida de pavor.
O Natal é a esperança sem precedentes, o nascimento glorioso e por isso sem muito compreender o que isso significava a pequena seguiu por uma tentadora e deslumbrante estrada. Em que poderia ver surgir o amor verdadeiro, a solidariedade, a luz intensa e reformadora. O sorriso passou a ser sua mais poderosa arma e a fé o símbolo eficaz. Em nenhum momento deixou de optar pelo amor, paixão, as alegrias da vida, os prazeres inefáveis, a ternura, “o viver a existência com satisfação” como o faz até hoje. As recordações ficam, mas a vida prossegue.
Assim vendo tanta violência no Rio de Janeiro, Brasil e o mundo, onde muitas pessoas estão se matando e odiando por coisas tão fúteis, pergunto-me o que poderá restar numa alma tomada por tamanha realidade?
Venho apelar para minha terra, sentir sua beleza natural que tanto amei amo e amarei e pedir a esses jovens conterrâneos cujo coração feroz não dá trégua a seu semelhante que deixem que a beleza, a energia do sol como perene testemunha, o brilho das estrelas e o nosso mar contaminem de mais encanto seus sentimentos e lembrar que a época é de amar, beijar, sentir, inebriar-se, e principalmente aproveitarem agora a época da luz irradiando calor, claridade e vida para a transformação gloriosa de si mesmos.
Vânia Moreira Diniz