Falei do recomeço literário e intelectual, mas agora é de um recomeço ainda mais profundo que volto a falar. Recomeço de esperanças de alegrias, de atitudes, de sensações e de vida propriamente dita. Aquele instante que olhamos para dentro de nós mesmos e não compreendemos por que prosseguimos nos mesmos passos e com o mesmo ritmo.
Esse é o momento mais difícil em que precisamos nos conscientizar, olhar para frente e entender, o quanto precisamos reformular modos de vida e conceitos em relação ao hoje e ao amanhã. E compreender o que passa dentro de nós mesmos, superando os pequenos instantes de indecisão.
Nesse momento olho para dias passados e não consigo ou não quero recordar o ontem que chamuscou, mas deu vida, escureceu iluminando e fez com que minha alma estivesse sempre em ritmo de alucinante movimento, mas eram dias esparsos, em que procurava apesar dos tropeços harmonizar a caminhada e procurar o equilíbrio.
Agora, nesse exato momento ando por caminhos misteriosos e me dou o direito de pela primeira vez dizer um não, de pensar no que constitui para mim a essência da vida e de encarar um instante de egoísmo com a mesma isenção com que enfrentei e disse sim a muitos acontecimentos difíceis e que pareciam intransponíveis.
Nessa progressiva regressão de pensamentos, fecho os olhos da alma e embarco profundamente, esquecida de quem sou e como vim, de que forma estou agora, dissecando meu eu interior e procurando entender o mundo em geral e as pessoas que o habitam.
E faço um retrospecto que não deixa de ser fascinante analisado sob certos prismas incertos e pontiagudos. Quando depois de muito tempo abro finalmente os olhos eu me vejo em volta com outra civilização e os sentimentos parecem ser mais profundos em brusca de uma solução comum.
Tudo que quero nesse momento é voltar à minha reflexão e tirar elementos que ainda não foram cultivadas, talvez nem mesmo plantadas para que resultem na seiva com a qual pretendo me agasalhar.
O recomeço é a única forma de fortaleza que se encontra disponível quando o planeta parece um oásis de violências, incompreensões, egoísmos, pobrezas e até a ameaça contundente de uma fria e dolorosa guerra. Ele faz com que as pessoas reavaliem tudo que está aí e opte pela esperança, nobreza, solidariedade e qualidade de vida, percorrendo cada dia com mais intensidade e menos descaso. Com menos desprezo e mais amor, com vibração e sem indiferença.
Recomeço daqui as minhas reavaliações para chegar a um consenso pessoal que espero, seja uma das formas de compreensão mais apurada de mim mesma e dos que me rodeiam. E possa entender, vibrar e sentir que a reformulação iniciou seu processo abrangente e eficaz na procura de um mundo e de sentimentos mais amenos, partindo do nada e caminhando para um leque que se abrirá em esperanças e realizações.
Minha alma esperou até agora. E já ansiosa parte para essa nova experiência com a vontade férrea que propiciará novos dias de contradições, talvez, porém e certamente de um mundo mais perceptível, valoroso e transbordante de verdades saudáveis e flexíveis.
Resta-me apenas saber se é possível iniciar. E de que maneira.
Vânia Moreira Diniz