Creio que não haja nada mais importante para conduzir a vida ou o trabalho do que o estímulo. Muitas vezes as pessoas perdem muitas oportunidades justamente porque falta esse elemento importantíssimo. Elemento esse que é a base talvez primordial da vida.
Conheci alguém cuja saúde estava seriamente comprometida. Sua doença se deu numa época em que tinha passado por complicações de ordem afetiva. A relação com a mulher que ele amava estava podemos dizer “mornas” o que é a pior temperatura para o amor. E ele se encontrava á beira de um colapso nervoso. Em conseqüência sua produção profissional carecia de força e entusiasmo e trouxe danos quase irreversíveis.
Seu rosto de traços bonitos estava pálido e desanimado dando a impressão de falta de vida e proporcionava uma sensação negativa para quem o olhava. Sempre fora bonito sem ser considerado como tal porque seu semblante estava continuamente sombreado pela tristeza e negatividade.
Quando o conheci achei-o no mínimo estranho. E imaginei que era um desperdício um homem com uma aparência imponente estar sempre tão desestimulado. Sua mulher era bonita e extremamente charmosa. Chamava a atenção não só pela beleza como pelo seu modo gentil e a vivacidade do gênio exuberante. Ao contrário do marido delirava por pequenas coisas e tudo a levava realmente a vibrar. Era agradável sua companhia tanto quanto desanimadora a de Roberto. E ela já não conseguia empreender nenhum esforço para animá-lo. Estava cansada de reiniciar sempre.
O advogado estava habitualmente doente, e havia se submetido a vários exames com resultado negativo, mas começou a ter problemas na coluna. Chegou a ponto de não conseguir andar. Foi internado, mas a verdade é que ninguém sabia o que ele tinha. Os médicos realmente estavam admirados com aquela paralisação repentina e esquisita. Havia se separado de Luiza e sabido que ela estava bem com outra pessoa e isso o fizera ainda mais amargo. De uma amargura que consumia sua saúde e seu ânimo. Finalmente com fisioterapia e um tratamento à base de relaxantes voltou a andar.
Por acaso conheceu Márcia numa pequena reunião que promoveram seus amigos. Arredio a princípio deixou-se pouco a pouco se envolver pelo encanto da moça até que ficou realmente apaixonado. Ela soubera conquistá-lo. Restava concluir se com o gênio esquisito conseguiria manter aquele romance que tendia a se transformar num caso de amor.
Quando o encontrei nessa época vi que seus olhos brilhavam o que jamais havia ocorrido e comentei feliz:
– Roberto, como você está bem! Parece que está começando a realmente viver.
Olhou-me com a antiga falta de entusiasmo expressa até nos gestos lentos
-Será? E se tudo acabar?
-Não acontecerá. Mas se ocorrer você viveu! É muito importante. Por que está constantemente achando que nada dará certo?
-Fui criada numa família estranha, Vânia. Minha mãe sempre me dizia que era melhor que eu não esperasse que as coisas dessem certas, pois assim eu não me decepcionaria.
-Roberto, mas isso foi horrível, desculpe-me. Vocês não tinham direito de se estimularem por um acontecimento, depositando fé e acreditando em seu sucesso?
-É exatamente assim. Agora estou vendo que estava tudo errado. Márcia praticamente está me ensinando a ver a vida de modo diferente.
-Graças a Deus! Mas de vez em quando você tem umas recaídas. Embora seja natural porque o estímulo não deixa de ser um treinamento.
– Sim, estou tentando me conscientizar que a vida tem seu lado bom e estimulante.
-Além disso, você tem a seu lado o especial ingrediente do estímulo: O amor. Não precisa fazer tanto esforço para enxergar isso, Roberto. Márcia não está apenas lhe ensinando, está ali, exemplo vivo.
Roberto sorriu e pude entender por sua luminosidade que jamais vira em seu rosto, pela declaração esperançosa que revelava em palavras sinceras e a espontaneidade daquele depoimento o valor intransponível e valoroso do estímulo.
Vânia Moreira Diniz