Desde 01 de Março de 2022

Segunda carta do amor insone

Para Vaninha Moreira Diniz

Não só falarei das manhãs esplêndidas de outubro, Vaninha, musa minha, mas das tantas manhãs de penumbra diáfana que acordei atônito e atormentado noutros outubros de ontem e de hoje a perseguir de um grande amor e que por ele vivi sempre de passar noites e dias em claro.

Não só falarei das tardes mordaçadas de outubro, musa adorada, em que quedei absorto e fatigado a buscar de um sono tranquilo em que estivesse ao meu lado aquela a quem toda minha realização de vida me fez procurar por todas inalcançáveis rotas do buscar.

Não só falarei das noites encantadoras de outubro, deusa minha, mas das que sucumbi insone depois de uma labuta arrasadora a construir meus projetos desastrados que mal nasciam e morriam já nas vésperas da plenitude e requeriam você a toda hora e momento.

Não só falarei dessas e de outras coisas, amada minha, mas das buscas de ver-lhe a silhueta se encaminhando heroína a desfilar na trajetória de mim com seus olhos de diamante mirando caçadora para aprisionar-me no acorçoo da volúpia; dos lábios sedosos insinuando um sorriso de beijo amante para redenção de minha alma inquieta; da boca gostosa saboreando a captura de todos os teres e haveres de vento e de nada do meu ermo poder de sobrevivente arrasado; das mãos ternas e espalmadas a consagrar nossa alteridade a dar-me sempre a mais do mérito com afago certeiro na minha angústia desembestada; do decote eclodindo dos seios como troféu que contempla o verdadeiro aconchego da vida; dos quadris mexedores que sacodem meu tédio e me envolvem na andança de partilhar eufórico de sua caminhada rumo aos dias que ainda estão por vir; das coxas torneadas sustentando a agonia do meu prazer adiado que sempre se inflama com a oferenda de sua acolhida mais que fraternal; das pernas ziguezagueando a fronteira da minha vigília, convidando-me para a estrada dinâmica e ambígua da vida de viver e morrer, de perder e ganhar, de querer e se entregar, de sorrir e chorar, de amar e desamar, até que me faça cônscio de que tudo é e pode não ser ao mesmo tempo nesse emaranhado todo de sonhos de amor e viver.

Não só direi disso, Vaninha minha, direi muito mais e não me cansarei disso em poemas que brotam na minha desajustada e premente forma de amar, até ser-me completo do que sou de você em mim.

Luiz Alberto Machado

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